Inveja

Inveja

A inveja como combustível de quem faz crítica fácil

Guilherme Baumhardt

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Jogadores da Seleção Brasileira, acompanhados do ex-atleta Ronaldo Fenômeno, foram a um restaurante badalado do Catar. Trata-se de uma das filiais da rede do chef Salt Bae, o sujeito que faz acrobacia para tudo, até para salgar a carne – há uma penca de vídeos do sujeito na Internet, para quem não o conhece. O prato: carne coberta de ouro. Claro, não é o ouro que se usa para fazer jóias, alianças e afins. É ouro, mas um tipo mais barato e, portanto, mais acessível.

O episódio foi o estopim para brasileiros (falsamente) sinalizarem virtude, para pregação de moral de botequim. Todos esbravejando, cobrando, mas sem olhar para a própria cara no espelho – ou a fatura do cartão de crédito do banco. “Quanta ostentação!”, “para quê isso?”, “eles não sabem que tem gente passando fome no mundo?!” foram algumas das pérolas ouvidas aqui e ali e que proliferaram nas redes sociais, inclusive.

Os autores são, na maioria, pessoas que dificilmente poderão pagar carne coberta de ouro (eu estou entre eles), mas que podem comprar pequenos luxos, como um churrasco para a família no final de semana. E, para isso, compra picanha. Picanha virou artigo raro, está cara. Será que essa conversa falsa moralista aparece no evento familiar? Alguém levantaria o dedo e diria: “Que vergonha essa carne toda na churrasqueira. Para que tanta ostentação? Picanha!!!! Sabem quanto está o quilo da picanha?!?! Este churrasco precisa parar!”. Duvido que algum pregador de moral de cuecas diga isso.

Você precisa ser milionário para certos prazeres. Há pessoas com condições financeiras que, vez ou outra, resolvem gastar alguns reais a mais para comprar uma boa garrafa de vinho, por exemplo, para um momento especial, um jantar a dois. Há crime nisso? Nenhum. Outros conseguem viajar nas férias, pagar por bons hotéis, passagens aéreas, coisas que não são acessíveis a uma parcela significativa da população brasileira. Alguém passa o cartão e confirma o pagamento com peso na consciência? Não acredito. Pois bem, então não há crime algum no jantar com carne dourada, em que Ronaldo e outros jogadores foram flagrados. Se eles vão comprar carne dourada ou trocar o carro importado, é problema deles, desde que o dinheiro seja fruto de trabalho honesto.

Há uma mentalidade tacanha plantada na cabeça do brasileiro, produzida pela lógica esquerdista. Enriquecer é pecado e os olhos de carpideira, prontos para alimentar a fofoca. O bife dourado dos jogadores causou espanto. Curiosamente, o ditador Nicolás Maduro, da Venezuela, que foi ao mesmo restaurante, não provocou tamanha revolta. E no caso dele seria completamente justificável. Estamos falando de figura pública, que pagou a conta com o dinheiro suado dos venezuelanos, estes sim, famélicos. Se há uma vergonha e um fato a ser condenado é a carne de Maduro, não de Ronaldo e companhia.

No fundo, fico sempre com a sensação de que a inveja é um dos combustíveis que move a esquerda.


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