Kristallnacht

Kristallnacht

O estopim da kristallnacht ocorre em Paris

Guilherme Baumhardt

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Em novembro de 1938, famílias judias – especialmente da Alemanha, mas também da recém anexada Áustria – viveram uma noite de pânico e terror. Nos dias 8 e 9 daquele mês, sinagogas, casas e estabelecimentos comerciais de judeus foram depredados, saqueados e alguns incendiados. Cacos de vidros, das janelas e vitrines que foram arrebentadas com pedras e paus, ficaram espalhados pelas ruas, dando origem ao termo kristallnacht, ou – em português – “noite dos cristais”. Estamos falando de um ataque perpetrado dez meses antes do início oficial da Segunda Guerra Mundial (setembro de 1939 a maio de 1945, no continente europeu). O episódio ilustra bem o nível de tensão e perseguição já existente na Alemanha nazista.

O estopim da kristallnacht ocorre em Paris, após o assassinato do diplomata alemão Ernst Vom Rath, morto por Herschel Grynszpan, um jovem judeu polonês de 17 anos, inconformado com a expulsão de famílias judias da área do reich alemão – entre os expulsos estavam os pais de Herschel. Para a opinião pública, a noite dos cristais foi alardeada como uma reação popular e espontânea, mas por trás do movimento estavam a máquina de propaganda nazista, movimentos como a Juventude Hitlerista e integrantes do governo.

Viajamos no tempo e chegamos a outubro de 2023. Dias atrás a capital da Alemanha (Berlim) amanheceu com casas e lojas marcadas com a Estrela de Davi, símbolo caro aos judeus. Inevitável lembrar o que viveram os judeus na Europa, antes e durante a Segunda Guerra Mundial. Na terça-feira, um novo episódio. A imprensa mundial – com muita pressa e pouco cuidado – noticiou a morte de 500 pessoas que estavam dentro de um hospital, na Faixa de Gaza, atribuindo a tragédia a um ataque israelense. A notícia – com efeito semelhante ao tiro disparado por Hershel, em 1938 – despertou a ira e a revolta da comunidade islâmica em diversos países, provocando protestos. Embaixadas e consulados foram alvo de ataques e depredação. Mas havia um detalhe.

Até agora, as evidências mais robustas apontam para um artefato explosivo vindo da Faixa de Gaza. Ou seja: explosão e mortes teriam sido provocadas – mais uma vez – pelo Hamas. O estrago, porém, já havia sido feito. Com base na informação precipitada (e equivocada) reuniões que poderiam render um cessar-fogo ou até uma esperança de paz foram canceladas. Mas vimos, lamentavelmente, que a chama do antissemitismo permanece viva, desde a classe política até chegar a própria imprensa.

Fica evidente que há no ar uma expectativa por um tropeço das Forças de Defesa de Israel. Uma tentativa amalucada de colocar a reação israelense na mesma prateleira do terrorismo praticado pelo Hamas. O episódio do hospital deixou isso claro. E, infelizmente, outros virão. Guardadas as devidas proporções, temos uma luz de alerta acesa para o que poderia ser uma nova noite dos cristais: uma onda de violência antissemita espalhada pelo mundo, incentivada especialmente pelo radicalismo vigente em alguns países daquele pedaço de planeta, mas que encontra eco até em regiões livres, democráticas e com valores ocidentais que pareciam sólidos.

Pareciam. A frase é antiga, sem autoria exata (atribui-se a sentença a Ésquilo ou Samuel Johnson): “Em uma guerra, a primeira vítima é a verdade”. Com níveis de tensão altíssimos, recomenda-se cautela. Dica valiosa para políticos, religiosos e, também, para a imprensa.

Honra ao Mérito

Por iniciativa da vereadora Fernanda Barth, este colunista receberá amanhã, sexta-feira, às 17h, uma homenagem da Câmara de Porto Alegre, com a outorga do Diploma de Honra ao Mérito. Agradeço as inúmeras mensagens recebidas até aqui, antes mesmo da solenidade, e convido os leitores a prestigiarem o evento. Como bom “alemão batata”, este escriba fica de bochechas coradas, tímido que é e avesso a eventos desta natureza. Para a vereadora, o meu muito obrigado.

 


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