Lição

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Há componentes que agem como aliados nesta hora.

Guilherme Baumhardt

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A manchete traz a boa notícia: a inflação no Brasil volta aos patamares pré-pandemia. É um grande passo rumo ao crescimento sustentável. Não há país no mundo que tenha se desenvolvido com preços descontrolados, algo que arrebenta a previsibilidade, traz insegurança, aumenta as dúvidas sobre os rumos da economia e torna o dinheiro mais caro. Ao que tudo indica, neste aspecto, estamos novamente nos trilhos.

Antes que os aproveitadores de plantão resolvam surfar a onda positiva, vamos injetar uma boa dose de vida real: o dado positivo se dá apesar do governo, e não em função do governo. E o mérito da notícia animadora tem nome, sobrenome e uma base. Chama-se Roberto Campos Neto, presidente de um Banco Central independente, um avanço obtido na gestão Jair Bolsonaro – apesar de todos os esforços petistas em sentido contrário.

Ainda não inventaram um remédio mais eficiente ou menos doloroso para domar a alta de preços do que a taxa básica de juros. Tornar o dinheiro mais caro é chamar uma economia viciada para a vida real. Um governante populista resolve ligar a impressora e emitir moeda (caso da Argentina atual)? Cabe ao Banco Central lembrar que não há árvore que nos ofereça cédulas ou moedas no lugar de folhas.

Há componentes que agem como aliados nesta hora. O dólar apresenta tendência de baixa, algo que impacta importações – fica mais interessante importar, a preços reduzidos –, e a cotação do petróleo vem caindo no mercado internacional (apesar da guerra da Rússia e Ucrânia, a principal fonte de incerteza em escala mundial na atualidade). Se a notícia é positiva e o cenário externo também, o ambiente interno recomenda cautela.

O lulopetismo não abandonou a ideia de ser protagonista na economia. Vale lembrar duas frases do gigante Ronald Reagan, ex-presidente dos Estados Unidos. A primeira: “Não espere do governo a solução para o problema. O governo é o problema”. E a segunda: “A visão do governo sobre a economia poderia ser resumida em poucas frases curtas: se ela se movimenta, taxe-a; se ela continua se movimentando, regule-a; e se ela para de se mover, subsidie-a”. É a síntese perfeita do que nos aguarda com Fernando Haddad na condição de timoneiro da economia brasileira.

Programas como o Desenrola (que pretende renegociar dívidas da população) e a volta do carro popular ao mercado, por força e mão governamental, são apenas alguns exemplos. No lugar de deixar o mercado agir, como fazem países desenvolvidos, gente que ignora o receituário de prosperidade e crescimento de nações desenvolvidas resolve ser mais realista que o rei. Medidas assim podem até provocar algum impacto positivo no curto prazo, mas geralmente não passam de um soluço. Em nome de quê? Um protagonismo artificial, para vender ilusões e mais uma vez se colocar na condição de protetor de um Estado patriarcal. Oferecem soluções, entregam ineficiência.

Querem exemplos? A previdência no Brasil é essencialmente pública. Qual o resultado? Ela estava quebrada, ao menos até o dia em que uma reforma (gestão Bolsonaro e Paulo Guedes) fez os ajustes necessários para que ela ganhasse sobrevida. Saneamento básico? Também nas mãos do poder público, que até hoje não conseguiu prover água tratada para 100% da população. Quando analisamos os dados de tratamento de esgoto o quadro é horrível. Ensino? Apenas a Universidade de São Paulo (USP) figura entre as 100 principais instituições de ensino superior do mundo, em alguns rankings internacionais – apesar de todo o dinheiro do pagador de impostos despejado ano após ano no ensino superior.

A notícia, por enquanto, é boa. Mas não se animem. Se ninguém colocar freios em Lula e Haddad, nem mesmo Roberto Campos Neto (que tem mais um ano e meio de mandato) será capaz de manter as coisas nos eixos.


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