Más companhias

Más companhias

No Brasil, a semana começou com uma recepção calorosa ao ditador venezuelano Nicolás Maduro.

Guilherme Baumhardt

publicidade

“Diga-me com quem andas e eu te direi quem és” é uma frase bastante popular, conhecida e que não surgiu do nada. Alguns apontam uma possível origem bíblica, algo um tanto controverso. De uma forma ou de outra, quem teve uma mãe presente e atenta já ouviu uma versão bastante parecida: “Quero saber quem são tuas companhias e o que andam fazendo”. É o olhar materno e da experiência, que sabe o peso e o risco de influências ruins sobre os filhos.

A postura internacional brasileira se encaixa bem nas frases acima. A vergonha de Banânia, no caso da guerra entre Rússia e Ucrânia, pode ser resumida pela imagem de Lula agarrado a um pedaço de papel, tentando ignorar a chegada do presidente Volodymyr Zelensky a uma reunião do G7, no Japão. O presidente que não tem apreço por livros e se orgulha da falta de leitura se esforça em dedicar alguma atenção ao que segura em mãos, enquanto os demais presentes se levantam para cumprimentar e demonstrar apoio ao ucraniano.

No Brasil, a semana começou com uma recepção calorosa ao ditador venezuelano Nicolás Maduro. Na fala conjunta, um festival de bobagens, a começar por uma propositada geleia geral. Disse Lula: “O preconceito contra a Venezuela é muito grande”. Não, Lula, não há preconceito contra a Venezuela. Há repúdio de brasileiros contra a tirania que hoje vigora do outro lado da fronteira, assim como a preocupação de que o Brasil siga pelo mesmo caminho.

Em abril, um relatório divulgado pelo Tribunal Penal Internacional revelou parte dos horrores cometidos pela ditadura Maduro-Chavista. “Eles maltrataram minha família para me fazer sofrer. Minha esposa foi constantemente abusada sexualmente sob a ameaça de que, se eu não tolerasse, eles não a deixariam me ver”, afirmou um ativista político que foi preso e torturado por agentes do regime. Os abusos vão além: “Meus testículos foram eletrocutados, fazendo com que eu perdesse o controle da minha bexiga e urinasse fortemente devido ao choque. As cicatrizes das queimaduras permanecem em meu corpo”. Há relatos de violação sistemática dos direitos humanos, para calar vozes dissidentes.

Na economia, o cenário não poderia ser outro que não aquele que é especialidade de toda administração esquerdista, com intervenção excessiva do Estado. Além da inflação galopante, Nicolás Maduro produziu miséria absoluta, que poupa apenas os donos do poder. Enquanto a população vasculha o lixo em busca de algo para comer, o atual ditador é filmado em restaurantes internacionais que ostentam no cardápio carne folheada a ouro. Em Cuba, enquanto a população passava fome, Fidel Castro circulava com uma reluzente Mercedes-Benz do ano.

O desmonte dos sistemas de produção pode ser visto na principal atividade econômica do país. Integrante da Opep e detentora das maiores reservas do mundo, a Venezuela viu a produção despencar. Em 1999, quando Hugo Chávez chegou ao poder, o país ocupava o sexto lugar no ranking mundial, com produção diária de 3,4 milhões de barris por dia. Em 2018, nossos vizinhos ocupavam a 15ª posição, com 1,8 milhões. Em 2021, o país não aparecia mais na lista dos quinze maiores produtores. No mesmo período, os Estados Unidos saltaram de 8,2 milhões para 16 milhões de barris por dia.

A culpa? No lugar de se olhar no espelho, a turma busca o atalho de sempre, externando pelo companheiro Lula, nesta segunda-feira: “Maduro não tem dólar para pagar as suas exportações. Quem sabe ele começa a pagar em Yuan? A culpa é dele? Não, é culpa dos Estados Unidos, que fez um bloqueio extremamente exagerado”.

Para Lula, como sempre, a culpa da tragédia não é da ditadura venezuelana, mas da maior democracia do mundo. Diga-me com quem andas e te direi quem és.


Mais Lidas

Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895