Narcoesquerda?

Narcoesquerda?

Não espere de líderes mundiais o comportamento de freiras em um mosteiro, ou de escoteiros em um acampamento de verão.

Guilherme Baumhardt

O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, não vira para a posse de Lula

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Nações têm interesses. Podem ser políticos, econômicos, militares. Não significa que países não tenham valores, balizadores éticos ou morais. Mas, antes de tudo, há interesses. O que quero dizer com isso? Não espere de líderes mundiais o comportamento de freiras em um mosteiro, ou de escoteiros em um acampamento de verão. Antes de mergulhar no assunto da semana, lembro da Operação Condor, quando os governos do Brasil e dos Estados Unidos compartilharam informações sobre movimentos de esquerda, muitos deles formados por guerrilheiros – ou terroristas.

O episódio que veio a público com mais força nesta semana remonta a possíveis relações escusas partindo da Venezuela, atualmente governada pelo ditador Nicolás Maduro (o sujeito que conversa com o sabiá no qual encarnou o falecido ditador Hugo Chávez). Preso na Espanha, o general Hugo Armando Carvajal, até ontem homem forte do regime de Caracas, resolveu abrir a boca, em um processo de delação premiada. Trata-se de uma tentativa de evitar a extradição para os Estados Unidos, que o acusam de tráfico internacional de drogas. A medida já foi aprovada em instâncias inferiores e deve ter uma decisão final na próxima semana.

Como todos sabemos, em um processo de colaboração premiada não basta falar. Seria muito simples. O sujeito inventa uma história, dá um jeito de limpar a sua barra e transfere a responsabilidade para outros. Não é assim. É preciso apresentar indícios, provas, elementos que façam montar o quebra-cabeças. E o que disse Carvajal? Muita coisa.

Entre as denúncias (feitas, repito, por um sujeito apontado como peixe grande do tráfico internacional de drogas) estariam pagamentos ilegais a partidos e políticos de esquerda na América Latina – na lista estariam Lula, o boliviano Evo Morales e o argentino já falecido Néstor Kirchner. Há ainda a suspeita de que a Embaixada do Brasil na Venezuela tenha servido como uma espécie de entreposto para o dinheiro ilegal. A acusação é pesada. Se comprovada, tem potencial para colocar gente graúda na cadeia. Ou deveria.

Entre nós: deposito muito mais esperança nas investigações e conclusões feitas por autoridades europeias e norte-americanas do que eventuais condenações no Brasil. Não que eu não confie na Polícia ou Ministério Público Federal. Mas imaginar que o esforço de investigação de delegados e procuradores pode resultar em condenações é o mesmo que acreditar em Papai Noel e Coelhinho da Páscoa. Não virão, especialmente com o atual Supremo Tribunal Federal, mais preocupado em criar instabilidade jurídica (a discussão sobre o marco temporal no caso de terras indígenas é apenas um exemplo) ou ainda na autossuficiência criada por eles mesmos, em que são investigadores, denunciantes e juízes.

E lembrar que a entrevista bombástica da jornalista espanhola Cristina Seguí para a Record TV e para a Rádio Guaíba foi tratada com desdém por boa parte da imprensa. “Ex-aeromoça”, “tradutora” e “desenhista” foram algumas das expressões usadas para se referir a Cristina, na tentativa de desqualificar a fonte e desacreditar as denúncias. Farão o mesmo agora com “companheiro” Carvajal?

Até aqui a sensação é de que se abriu apenas uma fresta da tampa do bueiro. E o fedor exalado já provoca náuseas. Desconfio de que ele se tornará insuportável (para quem tem um mínimo de ética) caso as denúncias sejam comprovadas. Aguardemos.

Quem vai parar Alexandre  de Moraes?

Eu não gosto do que escreve Leonardo Sakamoto. Discordo de 99,9% das opiniões do Luis Nassif. Mantenho distância segura de portais como Brasil 247 e afins. O que eles escrevem ou o que defendem para mim não tem valor. Passa longe daquilo que tenho como norteadores. Mas... e sempre há um “mas”. Não defendo que sejam censurados pelo crime de opinião. Escrevo isso porque Alexandre de Moraes decidiu pedir a extradição do jornalista Allan dos Santos, por quem também não nutro simpatia, embora possa concordar com uma ou outra análise feita por ele. A argumentação feita pelo ministro é uma das coisas mais esdrúxulas, mais estapafúrdias que já li. Mas na maioria dos órgãos de imprensa tudo que se viu foi silêncio. Uma vergonha.

Miss mocreia

Nenhuma mulher é obrigada a participar de um concurso de Miss. Honestamente, acho que virou algo démodé, datado, antigo. Mas é algo que existe e que ainda tem um público cativo. Na França, porém, a disputa virou alvo de ação na justiça. Um grupo feminista (provavelmente um clube de mulheres infelizes ou desprovidas de formosura) resolveu questionar o critério de escolha da vencedora: a beleza. Haja paciência. Mulheres conquistaram (após muita briga) direitos aos quais não tinham acesso: trabalho, voto, ensino. Questionar um concurso de beleza cuja participação é facultativa não passa de um gigantesco desperdício de tempo e energia. Há outras batalhas muito mais importantes e interessantes.


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