Novos ventos para a Argentina

Novos ventos para a Argentina

A primeira constatação: as pesquisas eleitorais no país vizinho erraram feio.

Guilherme Baumhardt

publicidade

De imediato, peço desculpas ao meu colega e amigo Jurandir Soares, pela intromissão na área em que o especialista é ele, não eu. Mas o resultado das urnas na Argentina é algo tão forte que virou pauta obrigatória. A eleição presidencial no país vizinho tem algumas diferenças, a começar pelas primárias. Na sigla, em espanhol, Paso: Primarias Abiertas Simultáneas y Obligatorias. Todos na Argentina votam nos seus candidatos preferenciais, e partidos ou coligações usam o resultado para definir quem será o nome que disputará o pleito de outubro, já que mais de um nome pode figurar na lista das prévias – foi o caso do grupo do ex-presidente Mauricio Macri (Juntos Por El Cambio) e da frente kirchnerista (Unión Por La Patria).

A primeira constatação: as pesquisas eleitorais no país vizinho erraram feio. O terceiro colocado nas encuestas, o libertário Javier Milei, terminou como o mais votado, com a preferência de 30% do eleitorado. Ainda sobre Milei: ignore a imprensa de Banânia que insiste em chamá-lo de candidato de “ultradireita”. Trata-se de ignorância política (desconhecimento sobre conceitos) ou má fé, uma tentativa de criar um rótulo que possa, no futuro, ser associado a nazismo ou fascismo.

O desempenho de Milei, por si só, já seria motivo de alívio. Mas o cenário fica ainda mais promissor quando, na segunda colocação, surge a coligação Juntos Por El Cambio, com Patricia Bullrich à frente – com 28% dos votos. Somando-se os dois primeiros, é possível dizer com razoável previsibilidade que o peronismo arcaico, atrasado e letárgico, liderado pelos Kirchner e agora por Alberto Fernández, não terá êxito – a coligação de Sergio Massa, que representa o grupo, que ficou com 27% da preferência do eleitorado.

A Argentina está a alguns passos de, muito provavelmente, ingressar no grupo que hoje abriga o Uruguai – presidido por Luis Alberto Lacalle Pou – e o Paraguai – o atual presidente Mario Abdo Benítez, do Paraguai, será em breve sucedido por Santiago Peña. Todos pertencem a um espectro da política mais conservadora e, na economia, infinitamente mais responsável do que a esquerda biruta. Estamos falando de gente que respeita princípios básicos, como o direito à propriedade privada e metas de inflação. Enquanto na Argentina o aumento de preços ocorre a galope (algo entre 120% e 140% ao ano), no Paraguai o índice está em 3,5% (acumulado dos últimos 12 meses), enquanto o Uruguai caminha para fechar 2023 dentro da meta (entre 3% e 6%).

O receituário para colocar a Argentina novamente nos trilhos é conhecido. Não é preciso reinventar a roda, basta lembrar que a economia não aceita desaforo. Vai dar trabalho? Sim. Haverá choro e ranger de dentes? Claro. Mas o potencial está lá, instalado nas indústrias e com um setor primário que atingiu níveis de excelência reconhecidos no mundo. Basta que o governo não atrapalhe, algo que o kirchnerismo faz com esmero.

Alguns lembrarão Maurício Macri, que antecedeu Alberto Fernández. É oportuno. O ex-presidente bem que tentou, mas não conseguiu derrubar o estamento que domina corporações e a vida política do país vizinho, um cenário que lembra muito aquele encontrado por Margaret Thatcher quando assumiu como primeira-ministra, no Reino Unido. Sindicatos da esquerda jurássica, com um pensamento soviético e poder excessivo que mandavam no país. A pergunta que fica é: se de fato vencerem, Milei ou Bullrich conseguirão quebrar esta hegemonia?

Uma última nota sobre a disputa na Argentina: em Buenos Aires alguns locais de votação contaram com urnas eletrônicas. Lá, diferentemente do que ocorre aqui, o voto impresso auditável faz parte do processo. Há vídeos na Internet mostrando o funcionamento do sistema, mais novo e mais moderno, e bem diferente do nosso. Agora, além do Paraguai, a Argentina também mostra que voto impresso auditável não morde, não dói e faz bem à democracia.


Mais Lidas

Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895