O caldo engrossou

O caldo engrossou

O caso ganha gravidade após a exoneração de um funcionário do TSE.

Guilherme Baumhardt

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As instituições estão funcionando”, é o que dizem sempre que a temperatura sobe, como agora, em meio às eleições. Hoje, dia 27 de outubro, isso é balela, não passa de uma mentira, uma tentativa de engodo, embutida em uma frase dita no modo automático. Não representa sob hipótese alguma a realidade do país. Aliás, pelo visto, nem mesmo os sistemas eletrônicos do Tribunal Superior Eleitoral parecem estar funcionando – a distribuição da propaganda para as emissoras de rádio falhou. E adivinhe qual dos candidatos foi prejudicado? Ganha uma passagem só de ida para Caracas quem respondeu Jair Bolsonaro. O que acontece neste momento no TSE é gravíssimo. Se nenhuma providência séria for tomada, as eleições de 2022 entrarão para a história como uma gigantesca marmelada.

A campanha de Bolsonaro apontou, com base em uma auditoria, que mais de 150 mil spots de campanha não foram veiculados, especialmente em rádios do Nordeste brasileiro. Para termos uma dimensão da tragédia, se a compensação fosse realizada em apenas uma única rádio, ela ficaria 4 anos apenas transmitindo propaganda do atual candidato à reeleição.

O caso ganha gravidade após a exoneração de um funcionário do TSE. Alexandre Gomes Machado coordenava a distribuição da propaganda eleitoral. Em entrevista ao portal O Antagonista, ele disse que procurou a Polícia Federal por temer algum tipo de violência. “Fui atendido pelo delegado de plantão, disse que temia pela minha integridade física. Tiraram meu crachá, minha credencial de acesso, sem nenhuma satisfação e na frente de todo mundo. Achei que estava sofrendo uma condução coercitiva”, afirmou. Alexandre Machado foi além: “Tinha chegado esse e-mail que comprovava de alguma forma, porque a rádio estava admitindo que deixou de passar 100 inserções. Vinte minutos depois, meu chefe vai para a reunião e volta pálido: ‘O Levi (secretário-geral do TSE, José Levi do Amaral Jr.) falou que vai te exonerar. O ato de exoneração já está pronto’. Quando eu estava me arrumando para sair, colocaram a chefe de segurança na porta para me escoltar até a saída, até o carro. Tomaram o meu crachá. Estou tentando entender até agora o que aconteceu. A partir daí, acionei amigos e foi criando uma rede. O pessoal me arrumou uma advogada”.

Não demorou muito para que vergonhosas tentativas de desconstrução da denúncia viessem à tona. Alguns colocaram em xeque a auditoria por ter sido contratada pela campanha de Jair Bolsonaro. Eu, particularmente, não conheço ninguém que trabalhe de graça. O TSE, além de tentar transferir a responsabilidade para as emissoras, afirmou que “vem realizando alterações gradativas em sua equipe”. Acredita nisso quem quer.
Outros tantos tentaram minimizar o prejuízo da não exibição da propaganda – outra conversa para boi dormir. Estamos falando do Nordeste brasileiro, em que especialmente as pessoas mais carentes dependem do rádio e da televisão aberta para ter acesso à informação. E qual foi o resultado por lá? Foi a única região em que Lula venceu Bolsonaro, em todos os Estados.

Ao longo da quarta-feira surgiram vozes defendendo o adiamento da eleição. Em nome da paridade de armas e forças, é o mínimo que deveria ocorrer. Como a decisão final dificilmente caberá ao Congresso, mas provavelmente ao Supremo Tribunal Federal (e lá a defesa da Constituição é uma página do passado), o caminho é batalhar por aquilo que ainda resta de liberdade no país. E aí só há uma escolha possível no dia 30.
Ainda assim, vale o alerta: atingimos uma temperatura jamais vista, chegamos a um nível de tensão que jamais presenciamos no país, e os principais culpados são o STF, o TSE, e, especialmente, a figura de Alexandre de Moraes.


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