O comodismo cobra a conta

O comodismo cobra a conta

O Supremo Tribunal Federal, que já teve grandes nomes nas suas cadeiras, virou primeiro uma espécie de puxadinho de siglas nanicas, de gente que perde na votação, mas tal qual criança mimada corre para os braços da avó para ganhar o pirulito que os pais não entregaram

Guilherme Baumhardt

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Durante anos vimos nossos filhos serem presas fáceis da doutrinação esquerdista feita em sala de aula. E, nós, passivos, não reagimos. Ao longo de décadas, imperou nas instituições de ensino (das séries iniciais até as universidades) a ideia de que o Estado deve ser protagonista e de que passa pelo mesmo Estado a solução dos nossos problemas e mazelas. O indivíduo foi relegado a segundo plano para dar espaço e vazão para toda sorte de coletivismo.

Nossas crianças cresceram com este conceito, que trazia, também, uma relativização abjeta de regimes ditatoriais. A lógica vendida era apesar da tirania, da supressão de liberdades e dos assassinatos, no final, tudo aquilo teria valido a pena, pois receberíamos uma recompensa, chegaríamos a uma espécie de “Jardim do Éden”. Uma mentira.

A fatura chegou. Com as exceções existentes, não são raros os casos de jovens que, graças ao trabalho e suor dos pais, hoje veem naqueles que garantiram comida na mesa e boa educação, os inimigos a serem combatidos. Como nossa preguiça e comodismo deixaram o terreno livre para que ideias totalitárias prosperassem, a reação (bem-vinda) veio com força. Iniciativas como o Escola Sem Partido surgiram, transformando-se, inclusive, em projetos de lei. Mas precisava ser assim? Se a resposta tivesse surgido anos antes, certamente não precisaríamos de legislação para versar sobre o tema.

Citei aqui nossa inércia em relação aos filhos, à educação, mas poderia elencar outras situações. Nosso distanciamento da política fez com que a representação no Congresso piorasse eleição após eleição. Em um país com um pingo de vergonha na cara e um mínimo de coragem, sujeitos como Lula e Renan Calheiros já teriam sido varridos do mapa eleitoral. Inacreditavelmente, o primeiro aparece como candidato com chances de conquistar um novo mandato no Palácio do Planalto, enquanto o segundo ainda dá as cartas no Senado.

Como fomos covardes e comodistas, o passo seguinte foi ver a reserva moral e jurídica do país atuar como se fosse um partido político. O Supremo Tribunal Federal, que já teve grandes nomes nas suas cadeiras, virou primeiro uma espécie de puxadinho de siglas nanicas, de gente que perde na votação, mas tal qual criança mimada corre para os braços da avó para ganhar o pirulito que os pais não entregaram. Como a turma percebeu que havia um lapso e vácuo de poder é algo que não existe, hoje nosso STF parece ostentar onze pretensos presidentes da República, mas com uma importante e significativa ressalva: nenhum deles recebeu um único voto popular.

Há uma frase de Ronald Reagan que diz mais ou menos o seguinte: “A liberdade nunca está a mais de uma geração da extinção. Nós não passamos a liberdade para nossos filhos na corrente sanguínea. Devemos lutar por ela, protegê-la e entregá-la para que façam o mesmo”. Aos que acham que há uma dose de exagero nas palavras do ex-presidente norte-americano, basta ver o que acontece neste momento no Canadá e, por que não, também nos Estados Unidos, que vê a barbárie crescer com força, por exemplo, na Califórnia, uma espécie de terra sem lei.

O gigante Winston Churchill, que liderou o Reino Unido durante a Segunda Guerra, dizia: “Você nunca chegará ao destino se parar para atirar pedras em cada cão que late ao longo do caminho”. Nosso problema é que não atiramos pedras nem mesmo naqueles que mordiam nossos calcanhares e abocanhavam nosso pescoço. Como fomos comodistas durante anos, a conta chegou. E veio mais cara.


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