O dia mais importante do país

O dia mais importante do país

País terá um de seus dias mais importantes amanhã

Guilherme Baumhardt

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Sim, ainda estamos no início de 2023. Mas amanhã, quarta-feira, teremos o dia mais importante do país até aqui e um dos mais relevantes do ano. Além da posse dos novos deputados e senadores eleitos, ocorrerá a eleição para o comando das duas casas legislativas. E, como se diz no campo, é chegado o momento em que vamos separar os touros dos terneiros.

Como o sistema político brasileiro não é de tão simples compreensão, antes de avançarmos cabem aqui algumas considerações. Deputados representam a população brasileira, por isso há (ou deveria haver) uma proporcionalidade. Estados mais populosos, como São Paulo, têm mais representantes. Unidades da federação com menor população, têm menos eleitos. Mora aí um dos nossos grandes problemas. Como há um mínimo de oito deputados federais por Estado, surgem distorções, que se traduzem em um desequilíbrio de forças em Brasília.

Aqueles com menor peso e importância econômica ficam “vitaminados”, enquanto outros, que colaboram mais com a riqueza do país, ficam sub representados.

O Senado, por sua vez, representa as unidades da Federação. E, por isso, o número é o mesmo para todos: três representantes que, somados, chegam a 81 senadores. E é na Câmara Alta que repousa a grande expectativa (e também esperança). Se na Câmara o atual presidente, Arthur Lira, parece nadar de braçada rumo a um novo mandato, no Senado a vida de Rodrigo Pacheco não deverá ser assim tão fácil. Ele é o favorito, mas Rogério Marinho não é carta fora do baralho.

Pelo bem do país, uma vitória de Marinho seria um sopro de esperança para uma nação que, há alguns anos, deixou de ser pátria livre, em que a Constituição virou detalhe. Desde 2019, temos onze Constituições, cada uma residindo na cabeça de um dos ministros da Suprema Corte, com abusos sistemáticos e decisões tomadas à revelia da lei (vários casos já tratados à exaustão aqui, neste espaço).

Não imagino que Rogério Marinho venha alimentado pelo radicalismo. Não é do seu perfil – ele teve papel fundamental na aprovação das duas mais importantes reformas pelas quais o país passou recentemente – a trabalhista e a previdenciária. Soube construir e dialogar para, ao final, colher os louros do trabalho realizado, com as mudanças sendo referendadas pelo Congresso.

As chances de Marinho são pequenas, mas ele já mostrou ter habilidade. Se vencer Rodrigo Pacheco na disputa, não esperem que ele abra a gaveta e retire de lá, no dia seguinte, um dos inúmeros processos (muitos deles bem embasados) de impeachment contra ministros do STF. Não será assim. Mas com Marinho pode-se alimentar esta esperança, dentro do papel que cabe ao Senado. Com Pacheco, assistiremos a uma liderança pálida, cujo papel principal foi subjugar uma das casas legislativas aos arroubos do Supremo. Uma eventual vitória de Marinho pode ser o sinal para que Alexandre de Moraes e seus pares retornem ao quadrado que lhes compete – o de guardiões da Constituição, e não o de poder moderador que vossas excelências atribuíram ao STF.

Na história brasileira, já tivemos grandes homens à frente de momentos difíceis. Foi assim com Ibsen Pinheiro, no impeachment de Fernando Collor de Mello. E já tivemos, também, "gênios do mal" (na definição utilizada por alguns) a Eduardo Cunha, que autorizou o processo de impeachment de Dilma Rousseff. Marinho está mais para Ibsen do que para Cunha. Resta saber se nossos senadores farão o que precisa ser feito, ou vão manter Brasília como a capital mundial do conchavo e do jeitinho. Aguardemos. O ano mal começou, mas 1° de fevereiro é, sem exagero, um dos dias mais importantes da história do país.


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