O engodo nosso de cada dia

O engodo nosso de cada dia

Meio ambiente, segurança e preço no debate energético

Guilherme Baumhardt

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“O petróleo é nosso!” Era o que dizia a propaganda oficial do governo Getúlio Vargas, na década de 1950. E, na época, foi ela a tese vencedora. Saíram derrotadas figuras como Carlos Lacerda e Roberto Campos, que já alertavam para o erro de ter uma estatal monopolista. Seria muito melhor abrir o mercado e estabelecer concorrência. Não à toa, Campos cunhou a expressão “Petrossauro”, que acabou imortalizada, para definir a empresa. “Bob Fields”, por sinal, é um sujeito que ainda não recebeu o devido reconhecimento pela sua trajetória e legado.

Somente agora, quase sete décadas depois, vemos um ambiente minimamente concorrencial no setor de petróleo brasileiro, em que companhias privadas estrangeiras passaram a entrar no processo, desde a exploração até o refino. Ao longo de todo este período, convivemos com a ideia (equivocada) de que o petróleo era uma riqueza nacional, esquecendo que ele só tem valor depois de retirado do fundo do mar (no caso brasileiro, em águas profundas), craqueado (quando são obtidos gasolina, gás de cozinha, querosene, asfalto e outros produtos) e distribuído. Do contrário, é apenas um mineral escondido e que precisa ser trabalhado.

No final dos anos 1990 e início dos anos 2000, os inimigos do povo eram os “neoliberais” e a dívida externa brasileira. Os primeiros eram os “entreguistas”, que davam de presente para o capital privado internacional as nossas riquezas (na verdade, um punhado de estatais ineficientes, atrasadas e jurássicas). No caso da dívida, na cabeça dessa gente, não haveria mais a necessidade de honrar nossos compromissos, afinal o Brasil era um país autossuficiente e não dependia de importações, exportações ou parceiros comerciais externos. Confesso a vocês não saber se a origem dessa estultice era mera desinformação ou safadeza. Talvez uma mistura de ambas.

Comprar esse tipo de engodo poderia ser explicado, talvez, pelo nosso passado colonial. Se isso fosse verdade, não encontraríamos mundo afora gente disposta a acreditar em baboseiras semelhantes. Não é, portanto, uma exclusividade nossa. Nosso mais novo embuste (ou engana bobo) é a agenda climática e o risco de aquecimento global. Se você se sentar ao lado de um seguidor da jovem Greta Thunberg e ouvir meia hora da discurseira produzida por essa gente, são grandes as chances de entrar em depressão e ter a certeza de que o fim do mundo é questão de horas. Pouco importa se no debate (entre pesquisadores sérios) questiona-se inclusive se a ação humana tem todo esse potencial, ou se somos absolutamente insignificantes em transformações sobre as quais não temos controle algum.

Com raras exceções, o mundo ocidental comprou a agenda das mudanças climáticas. E, com isso, entrou em um beco sem saída. Noves fora o mérito dos avanços tecnológicos (descobertas científicas e novas fontes de energia são sempre bem-vindas), assistimos a líderes mundiais colocarem suas nações em uma posição de vulnerabilidade jamais vista. Transformaram a população liderada por eles em reféns de uma narrativa que pode interessar a alguns, mas não a todos.

No caso da energia (e consequentemente do uso de combustíveis fósseis), há um tripé que precisa ser observado, mas foi ignorado: a questão ambiental (contemplada pela turma do politicamente correto), a segurança e o preço (os dois últimos solenemente ignorados pela turma “biodesagradável”). O reflexo disso é que temos energia mais cara e sem a garantia de fornecimento, tão importante para empresas. Energia mais cara significa custo mais alto. Custo mais alto significa preços maiores. Preços mais altos tornam produtos menos acessíveis. E se não houver garantia de abastecimento, você automaticamente afasta investidores, que são os geradores de empregos, riqueza e renda.

A nossa ingenuidade surpreende.


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