O PT está nu (e isso é ótimo)

O PT está nu (e isso é ótimo)

Que aqueles que pretendem governar o país mostrem suas armas, suas garras e suas pretensões sem qualquer tipo de maquiagem ou produção de marqueteiros eleitorais

Guilherme Baumhardt

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“O projeto político nosso é disputar as eleições e ganhar. E defender os interesses da classe trabalhadora, os interesses nacionais. E evidentemente criar as bases para o nosso projeto socialista. Quando você mantém as estatais, mantém os bancos públicos, cria uma economia solidária, democratiza as relações de poder em todos os âmbitos, não só do Estado, mas inclusive das empresas, e, também, da sociedade você está criando as bases para uma mudança do regime”. As frases acima podem assustar incautos, ingênuos ou desinformados. Não quem acompanha há tempo o ideário petista. O autor? José Dirceu, durante uma transmissão pela Internet, para um portal de esquerda.

Já tratei do assunto aqui. Não sei se por soberba ou dentro de uma estratégia friamente calculada, mas o fato é que o PT definitivamente jogou fora o discurso “paz e amor” e está avançando a passos largos em um caminho de radicalização extrema, ao ponto em que uma nova “Carta aos Brasileiros” – como ocorreu em 2002 – torne-se inviável e, principalmente, pouco crível. Que bom. É melhor assim. Que aqueles que pretendem governar o país mostrem suas armas, suas garras e suas pretensões sem qualquer tipo de maquiagem ou produção de marqueteiros eleitorais.

Durante anos aqueles que alertaram para o chamado Foro de São Paulo foram ridicularizados, ironizados, chamados de loucos, tratados como paranoicos. Mas quando denúncias pesadas de envolvimento da esquerda latino-americana e do Foro com o tráfico internacional de drogas desembarcaram por aqui, depois de decolarem da Espanha e atravessarem o Oceano Atlântico, a turma saiu da toca e mostrou que os temerosos de outrora não eram tão malucos assim. Aos que não viram, teve até nota oficial - refutando as acusações - do Foro de São Paulo, assinada e publicada no site do... PT!

Não fosse por uma série de decisões esquizofrênicas do Supremo Tribunal Federal, Lula provavelmente ainda estaria atrás das grades atualmente. Com o STF que temos e no país no qual vivemos, não chega a ser surpresa que o ex-condenado não esteja apenas livre para concorrer, mas também apareça na frente em algumas pesquisas eleitorais. Mas Lula não é mais um menino.

O eterno sindicalista que tentou uma, duas, três vezes e apenas na quarta tentativa chegou à Presidência da República, sabe que esta talvez seja provavelmente sua última eleição – em outubro ele completará 77 anos e é difícil imaginar alguém com mais de 80 anos encarando com fôlego uma disputa presidencial, em que é preciso percorrer um país continental. Estaria aí a resposta para apostar todas as fichas num discurso radical? Vitórias da esquerda em países vizinhos alimentam essa estratégia? Há algum fator externo que pode interferir no resultado brasileiro? Nos Estados Unidos até hoje pairam suspeitas de que a Rússia teve alguma influência. Inicialmente, o republicano Donald Trump era o alvo das suspeitas. Quando relações pouco republicanas apontaram para o atual presidente, o democrata Joe Biden e seu filho, houve misteriosamente um silêncio por parte da imprensa norte-americana.

Se é apenas um motivo ou um somatório deles, pouco importa. O que realmente interessa é que algumas das manifestações recentes de petistas (a ideia de revogar as reformas trabalhista e da previdência, para ficar em dois exemplos) rivalizam até com o radicalismo visto antes apenas no PSOL e outros satélites. Definitivamente, a disputa presidencial de 2022 não será uma eleição tranquila.


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