Onyx X Leite

Onyx X Leite

Disputa nacional eleitoral impacta no cenário local

Guilherme Baumhardt

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Onyx Lorenzoni (PL) sai na frente na briga pelo Palácio Piratini. Contrariando os institutos de pesquisa, ele foi o grande vencedor do primeiro turno, com 37,5% dos votos válidos. Eduardo Leite (PSDB) ficou em segundo, à frente de Edegar Pretto (PT) por ínfimos 2.491 votos. Para efeito de comparação, em 2020, Cláudio Janta conquistou a última cadeira na Câmara de Vereadores de Porto Alegre, com 2.394 votos. Consta que a segunda-feira foi de grande procura nos consultórios de psicólogos e psiquiatras, com filas de petistas arrependidos de terem votado em Leite e não em Pretto, no dia 2 de outubro.

Segundo turno é uma nova eleição? Sim e não. São três semanas de campanha e tudo pode acontecer. Mas, em uma primeira análise, a tarefa do tucano parece mais espinhosa. Além de arrancar em desvantagem, Leite precisa buscar nos eleitores de esquerda (que votaram em Pretto) os votos para conquistar a reeleição. Se alguns já embarcaram na canoa tucana no primeiro turno, não parece ser algo tão impossível. Mas transferência de voto não é automática e Leite tem um desafio extra.

Bastidores apontam que entre os eleitores do tucano há uma fatia considerável (algo entre 20% e 25%) que votou em Jair Bolsonaro na disputa ao Palácio do Planalto. Cativar o eleitor petista traz um efeito rebote: atira automaticamente todos os bolsonaristas no colo de Onyx Lorenzoni. Ou seja, estamos falando de um eleitor que não viu problema em depositar seu voto em Leite no primeiro turno, mas, diante de uma aproximação com a esquerda, enxerga motivos agora para mudar de voto.

Onyx já conta com o apoio de Luiz Carlos Heinze e do Progressistas. Era algo natural. Do lado tucano, além dos socialistas do PSB, há manifestações de caciques petistas a favor de Leite. Tarso Genro, ex-governador cuja gestão enterrou o Rio Grande do Sul, é um deles – embora não haja ainda um posicionamento formal do PT a respeito do assunto.

A disputa nacional traz impactos no cenário local. Há uma tendência de ampliação de votos em Bolsonaro no Rio Grande do Sul, especialmente diante do que fizeram Santa Catarina e Paraná no primeiro turno – estados que registraram votações muito mais expressivas no atual presidente. Mesmo derrotado em solo gaúcho, Lula teve desempenho melhor por aqui. É como se o último Estado, no extremo do Brasil, fosse uma espécie de Nordeste no Sul.

Sabendo que o cenário brasileiro produz resultados aqui e tentando minimizar danos, Eduardo Leite anunciou neutralidade na disputa presidencial – não apoiará nem Lula, nem Bolsonaro. Resta saber se isso não será interpretado pelos gaúchos como um sinal de covardia.

Como votam os presos?
Curioso, resolvi ver como votaram os presos de duas das principais casas prisionais do Rio Grande do Sul, localizadas em Porto Alegre. Os dados são públicos, mas não muito fáceis de serem acessados. Na Cadeia Pública (antigo Presídio Central), Lula recebeu 59 votos, enquanto Bolsonaro contou com a preferência de quatro detentos. Na Penitenciária Feminina Madre Pelletier, Lula também venceu: foram 33 votos contra dois para Bolsonaro. Como Lula ocupou durante meses uma cela da carceragem da Polícia Federal, em Curitiba (PR), talvez seja uma espécie de solidariedade do cárcere.

 

Nem todos votam
Apenas presos provisórios podem votar. Aqueles que já tiveram sentença com trânsito em julgado têm seus direitos políticos suspensos. Ou seja, não votam e não podem concorrer a cargos eletivos. Ainda bem.

Simone Tebet pode virar...
A candidata derrotada nas eleições para a Presidência da República Simone Tebet (chamada de Simone “Estepe” e Simone “Tablet”, em alguns debates) corre sérios riscos de se transformar em uma versão 2.0 de uma colega de Senado. Anos atrás, Kátia Abreu deu uma guinada de 180 graus nas suas posições políticas. Presidente da Confederação Nacional da Agricultura, entidade forte e que reúne expoentes do agronegócio brasileiro, ela sempre esteve à direita no espectro político. Até que...

...Kátia Abreu
... resolveu mostrar que tinha dobradiça na espinha ou que tinha convicções tão sólidas quanto palanque em banhado. Com o governo da petista e esquerdista Dilma Rousseff naufragando, Kátia Abreu resolveu aceitar o convite para ser ministra da Agricultura, o que gerou desconforto no setor. Logo depois, aceitou ser vice na chapa de Ciro Gomes, em 2018. Na eleição deste ano, fracassou na tentativa de renovar a cadeira no Senado, recebendo menos de 20% dos votos válidos. Simone Tebet foi eleita pelo Mato Grosso do Sul, tem ligações com o agronegócio, mas resolveu apoiar Lula. Talvez seja o começo do fim.

Falando em Ciro
Alguém ainda acredita no que este sujeito diz?


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