Ouçam a esquerda!

Ouçam a esquerda!

Que o atual presidente do Chile é um sujeito de esquerda, todos sabem.

Guilherme Baumhardt

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Calma, calma, calma. Não, o colunista não enlouqueceu. O título acima remete a episódios recentes que serviram – mais uma vez – para mostrar que o real valor está nas ideias, muito mais do que em lados. E, mais do que ideias, são as intenções e ações que merecem a nossa atenção. A semana nos reservou alguns casos que escancaram a escalada ditatorial no Brasil, a miopia do país quanto ao cenário internacional e sobre os absurdos protagonizados por governo e Supremo Tribunal Federal contra a própria população.

Que o atual presidente do Chile é um sujeito de esquerda, todos sabem. Gabriel Boric é um político cujo passado remonta a uma espécie de ativista do PSol brasileiro – ou algo muito próximo disso. Durante a semana, em um evento que reúne a Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), Boric defendeu uma postura mais firme do continente, ao condenar a invasão da Rússia sobre território da Ucrânia. A fala tinha como alvo o presidente brasileiro e seu repertório carregado de um besteirol jamais visto nas relações exteriores – do resolver a guerra na mesa de um bar (frase dita ainda durante a campanha eleitoral), até colocar os dois países no mesmo patamar de responsabilidade pelo conflito, quando todos sabem que um é invasor e o outro é o invadido.

Nesta quarta-feira, durante o programa “Boa Tarde, Brasil”, na Rádio Guaíba, o presidente nacional do Partido da Causa Operária (PCO), Rui Costa Pimenta, teceu alguns comentários que são lapidares sobre a liberdade. Divirjo frontalmente sobre o que pensa o PCO (sabidamente um partido de esquerda) a respeito do papel do Estado, especialmente na economia, mas sou obrigado a reconhecer que Pimenta (favor não confundir com Paulo Pimenta) acertou em cheio em algumas das suas manifestações: “A liberdade de expressão é a pedra fundamental das liberdades políticas A Internet criou uma situação de ampla democracia na comunicação, que antes era restrita a um punhado de órgãos de imprensa escrita e falada, mas agora muitas pessoas podem dar sua opinião. E isso está causando uma crise no poder político internacional. E há uma tentativa de silenciar este pessoal”.

Quando pessoas com pontos de vista completamente divergentes acendem conjuntamente o mesmo alerta, para aquilo que consideram um risco, é porque já ultrapassamos todos os limites. No momento em que um liberal/conservador e um líder partidário de esquerda apontam o dedo na mesma direção, para o que consideram ser uma ameaça, a pergunta que fica no ar é: aqueles que ainda não perceberam o perigo, apenas fingem que não viram o tsunami ditatorial se aproximando, ou são apenas candidamente coniventes com os títeres que se apresentam como donos do poder?

“Brasilidades”

O Globo conseguiu produzir uma das maiores excrescências vistas recentemente na imprensa. Na ausência de vídeos que mostrariam o que realmente aconteceu no aeroporto de Roma, entre um brasileiro e um ministro do STF, o jornalão carioca resolveu partir para o desenho, algo digno de retrato falado de porta de delegacia. Se ficasse nisso, já seria ruim. Mas há erros de informação, quanto à idade do filho do ministro (ele tem, na verdade, 27 anos, mas o jornal informou 17). Para piorar, o sujeito é mostrado nas ilustrações como se fosse um adolescente saindo da puberdade, e não o adulto que é. Como se isso não bastasse, um ex-BBB que ficou mais conhecido por cuspir na cara de um deputado federal, agora assumirá função na comunicação do governo federal. O que ele fará? Nem mesmo o ministro que será o seu chefe sabe exatamente, mas o salário todos nós sabemos quem pagará... Eita, Brasil, descendo ladeira abaixo.


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