Pesadelo sem fim

Pesadelo sem fim

Guilherme Baumhardt

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Que a Operação Lava Jato e outras investigações semelhantes levantaram uma tampa de esgoto e de lá saíram escândalos fétidos, todos sabemos. Corrupção, desvios, dinheiro saindo pelo ralo – ou pelo ladrão. E havia uma espécie de ingrediente comum em boa parte dos casos: o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, o BNDES. Agora, uma má notícia: estamos abrindo as portas para que a história (trágica) se repita. Corremos o risco.

Na calada da noite, deputados federais autorizaram a mudança na lei que blindava estatais da ingerência política. Havia regras mais duras, aprovadas ainda durante o governo de Michel Temer, para a indicação de presidentes, diretores e postos considerados chave nas empresas. O ditado diz: porta arrombada, tranca de ferro. E a legislação era uma espécie de cadeado feito de aço e ferro fundido. Funcionou durante quase seis anos.

No final da gestão Temer e durante os quatro anos de Jair Bolsonaro, o único escândalo envolvendo empresas públicas federais não teve relação com dinheiro, mas sim com denúncias de assédio – refiro-me ao ex-presidente da Caixa Econômica Federal, Pedro Guimarães. Além disso, a blindagem também teve papel importante no resultado das companhias – lucro recorde, em uma escala jamais vista, trazida a reboque pela profissionalização da gestão.

Agora, para contemplar a indicação lulista, que pretende ver Aloizio Mercadante no comando do BNDES, parlamentares autorizaram a mudança na lei. Mercadante, além de ser um zero à esquerda quando o assunto é economia (durante anos acreditou – e talvez ainda acredite – que o controle de preços pode ser feito por tabelamento do governo), é a personificação do jeito petista de fazer as coisas, motivo suficiente para perdermos o sono.

Durante os governos (podemos chamar aquilo de governo?) de Lula e Dilma, o BNDES foi utilizado para ser o financiador da festa. Tem algum país vizinho, governado pela esquerda, que precisa de obras de infraestrutura? Deixa que o BNDES financia. Queremos implantar uma política de “campeões nacionais”, injetando dinheiro a rodo em meia dúzia de empresas escolhidas a dedo? Pode contar com o BNDES. E assim o barco começou a afundar. Dos empréstimos feitos a países inadimplentes, a empresários que tinham muito pouco a oferecer (o caso de Eike Batista é emblemático), nosso dinheiro foi usado para bancar a festa. Você pagou, só que não foi convidado.

Mercadante no comando do banco não significa austeridade, mas sim que Lula conseguiu implantar (mais uma vez) um braço político e não técnico em uma instituição que todos os anos opera bilhões e bilhões de reais. Mas e se der prejuízo? Ah, fiquem tranquilos. A conta eles sabem direitinho para quem mandar. Vai cair no seu, no meu, no nosso colo.

Setores da economia nacional já vislumbram o dinheiro fácil. Tal qual piranhas em um rio, governantes da esquerda latino-americana já perceberam que há sangue na água e estão, agora, nadando em alta velocidade, rumo à presa indefesa, para devorar aquilo que os brasileiros oferecem. Já tem até data e local para o início da festa (ou seria carnificina?). Brasília, 1° de janeiro de 2023.
Mais uma vez, parabéns aos envolvidos. Faz o L, faz!

Voltaire

Precocemente, Voltaire Porto, jornalista e apresentador da Rádio Guaíba, nos deixou. Esposa, três filhos, dono de uma habilidade para comunicar, especialmente com as grandes massas, era também carismático. Fará falta. Já está fazendo. Trabalhamos juntos, dividindo o estúdio da emissora, durante quase um ano. Ali aprendi a admirar o lado humano do profissional que eu já conhecia há algum tempo, mas superficialmente. Que ele, onde quer que esteja, encontre a paz. E que o Grande Arquiteto ilumine a família, principalmente os filhos.


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