Quanto tempo?

Quanto tempo?

Diferente da primeira vez, cenário externo é adverso

Guilherme Baumhardt

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Há um ditado popular que diz mais ou menos o seguinte: “Só passamos a dar o real valor para determinadas coisas depois que as perdemos”. A cada novo anúncio da equipe de transição, a cada novo nome para o governo lulista, temos um lamento. Claro, o sofrimento vem do Brasil que trabalha, gera renda e riqueza, que sabe que segurança sob todas as formas é um pilar fundamental de qualquer sociedade desenvolvida – segurança para garantir a própria integridade, segurança para empreender, segurança ao saber que a propriedade privada é respeitada.

Na Economia, sai Paulo Guedes (o melhor titular que a pasta já teve) e entra o errático e ignorante (em assuntos econômicos) Fernando Haddad. Sobre Haddad, aliás, além do título de pior prefeito da história de São Paulo, o queridinho de Lula carrega a fama de ser preguiçoso. Se é verdade ou não, são outros quinhentos, mas a agenda dele enquanto estava à frente da principal cidade brasileira ostentava poucos compromissos. Dizem as más línguas que ele também chegava tarde para o trabalho. A conferir como será como titular da Economia (ou Fazenda).

Poderíamos enumerar outros tantos, de Mercadante a Flávio Dino, já conhecidos e que ocuparão posições chave em Brasília. A grande questão é outra: quanto tempo levará para chegarmos à situação na qual se encontram hoje a Argentina e a Venezuela? Não se duvida de que este é o caminho. Só não vê quem não quer. A dúvida é sobre a velocidade que adotaremos rumo ao precipício. Pelo andar da carruagem, não vai levar muito tempo. Explico.

Diferentemente do que ocorreu no primeiro governo, Lula tem um cenário externo adverso. As grandes potências econômicas mundiais estão estagnadas e com sérios problemas internos, de inflação fora de controle à recessão. Não há, como havia no início do milênio, uma China com a economia crescendo na casa dos dois dígitos. O resultado desta conta é que o gasto público explodirá (a PEC do Estouro é apenas o começo) e os passos seguintes devem ser aumento de impostos e taxas, para bancar a festa, com o afastamento de investidores externos (algo que já ocorre), assim como um freio aplicado nos empreendedores que já estão no país. A inflação será consequência natural do cenário descrito acima.

Durante o atual governo se propagou a mentira de que praticamente 40 milhões de brasileiros passavam fome, dado trazido por uma entidade fajuta e comprado pela imprensa sem grandes questionamentos. O número que está muito mais próximo da realidade é o do Banco Mundial, que aponta 6 milhões de pessoas (uma senhora diferença). A propaganda petista e midiática – há momentos em que as duas coisas parecem uma só – bateu insistentemente na tal “fila do osso”, em que pessoas pobres se aglomeravam para tentar garantir algo para comer. Era um episódio esporádico, isolado. O que não ganha espaço em parcela expressiva da imprensa é o que acontece na Argentina, em que até caminhões em movimento são saqueados – caso recente de um veículo que transportava refrigerantes.

Tentando responder a pergunta feita no título, acredito que a distância que nos separa dos vizinhos não é tão grande. Não entraremos na miséria absoluta dos venezuelanos em quatro anos, mas é possível que estejamos em situação similar à dos argentinos neste período. Perder as rédeas da inflação é fácil. É o primeiro passo para prejudicar justamente as camadas mais pobres da população. Com a economia travada, poderemos ter o recrudescimento de protestos e greves (não dos sindicalistas de sempre, mas dos setores produtivos nacionais, que não devem deixar ver o que foi construído a duras penas ser destruído aos olhos de todos).

E é aí que mora a esperança de que tenhamos dias melhores pela frente. Diferentemente da Venezuela, onde o poder econômico foi esfacelado com o passar dos anos, por aqui ainda temos segmentos que têm força financeira para exercer pressão. Se a vaca estiver indo para o brejo, como sinaliza que está, o jeito será colocar o bloco na rua enquanto ainda há sangue nas veias e calorias no estômago. Demorar demais pode custar caro e, neste caso, virar uma Venezuela será o nosso destino.


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