Quem ainda leva o PT a sério?

Quem ainda leva o PT a sério?

A frase final me dá calafrios.

GUILHERME BAUMHARDT

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A deputada federal Gleisi Hoffmann (vulgo “Narizinho”, nas planilhas da contabilidade paralela da Odebrecht) precisa voltar para a sala de aula. A parlamentar, que também é presidente nacional do PT (uma espécie de títere de Lula, assim como foram alguns dos seus antecessores), disse o seguinte, em uma sessão da CPI do MST: “Talvez se a gente tirasse os altos subsídios do agronegócio, nós poderíamos medir a eficiência econômica do setor sem a mão do Estado”. Gleisi sabe que isso não é verdade. Mas a verdade incomoda Gleisi e o PT, então o negócio é distorcer a realidade, gerar narrativas e criar um inimigo que só existe na cabeça do petismo. Vamos aos fatos.

O Plano Safra – que talvez embase o raciocínio torto da petista – é muito mais um ato político do que uma prática estatal. Quase 80% do crédito não tem nenhum (nenhum!) apoio do governo. É dinheiro do setor privado, para o setor privado. Você, quando investe, por exemplo, em LCA (Letras do Crédito do Agronegócio) está canalizando recursos para o financiamento agrícola. Não há subsídios e a taxa de juros é a de mercado, ou seja, acima da inflação.

O leitor mais atento vai perguntar: e o restante? Os outros 20%, sim, possuem algum tipo de equalização de taxas, garantidas por interferência do governo. Ainda assim, são empréstimos, e não dinheiro a fundo perdido. Mas a quem ele é direcionado? Aos pequenos produtores rurais, via Pronaf. Ou seja, quem recebe algum tipo de subsídio é justamente aquele produtor que o PT tenta atrair para as fileiras do partido, logo, a crítica feita na CPI é infundada.

“Mas, Guilherme, outro dia eu vi que havia incentivo e subsídio para máquinas e implementos agrícolas”, afirma o leitor. É verdade, mas é algo canalizado para a indústria, não para o produtor. Há um benefício? Sim, indireto. Mas ele é limitado. O produtor rural é obrigado a comprar maquinário novo. Se fosse uma linha de crédito subsidiada e direcionada ao homem do campo, ele poderia, por exemplo, adquirir um trator ou colheitadeira usada, algo impossível com o método usado pelo governo. Mesmo assim, o Moderfrota, um dos programas de financiamento mais conhecidos, tem hoje taxas de 12,5% ao ano, em média. Pergunto: com uma inflação que deve fechar o ano na casa de 5%, qual é o subsídio? A resposta é simples: nenhum.

O descrédito petista pode ser visto nas lives presidenciais. Na semana passada, seis mil pessoas assistiam ao vivo ao falatório lulista, em uma rede social. O âncora da transmissão, o ex-jornalista esportivo Marcos Uchôa, chegou a falar em uma audiência na casa do milhão de espectadores. Corrigido ao vivo pela interlocutora, saiu pela tangente. Nesta segunda-feira, aconteceu a segunda transmissão. E os números pífios se repetiram. É sintomático que o palanque ambulante não tenha mais o mesmo prestígio.

Entre um Lula que dá traço de audiência e uma Gleisi Hoffmann "desinformada", meu maior medo, na verdade, está na figura de Maria do Rosário. A valente parlamentar do Rio Grande do Sul foi à China e, em uma rede social publicou uma foto, com punho cerrado, braço erguido, coisa típica de esquerdista. Na legenda, o seguinte texto: “Conhecer a China tem sido muito enriquecedor. Pequim, além de ser uma das maiores cidades do mundo, também é muito diversa e cheia de histórias. Tenho conhecido outras formas de se organizar e de estruturar a mobilização política. E em breve voltarei a Porto Alegre cheia de ideias”.

A frase final me dá calafrios. Na China há um único partido e quem ousa fazer oposição tem como destino uma cela ou o paredão. Espero que não sejam estas as “ideias” da deputada, especialmente para alguém que sempre se apresentou como defensora dos direitos humanos.

A pergunta final é: quem ainda leva o PT a sério?


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