Querem proibir a verdade

Querem proibir a verdade

Não demorou para que o vitimismo barato, presente na classe política e em redações Brasil afora, entrasse em campo.

Guilherme Baumhardt

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O governador de Minas Gerais, Romeu Zema, virou o alvo da vez. Por quê? Porque falou a verdade. No Brasil de hoje, querem banir a honestidade intelectual. O que fez o mineiro? Defendeu a união dos Estados das regiões Sul e Sudeste, como ferramenta de mobilização política. Há crime nisso? Nenhum. Zema foi além: “Está sendo criado um fundo para o Nordeste, Centro-Oeste e Norte. Agora, e o Sul e o Sudeste não têm pobreza? Aqui todo mundo vive bem, ninguém tem desemprego, não tem comunidade? Têm, sim. Nós também precisamos de ações sociais. Então Sul e Sudeste vão continuar com a arrecadação muito maior do que recebem de volta? Isso não pode ser intensificado, ano a ano, década a década”. Não há mentira alguma, mas a verdade incomoda, especialmente a esquerda.

Não demorou para que o vitimismo barato, presente na classe política e em redações Brasil afora, entrasse em campo. Como sempre, teve gente que viu chifre em cabeça de cavalo, enquanto outros procuraram pelo em ovo, ao mencionarem “separatismo” e “ignorância” do mineiro. Flávio Dino (sempre ele) compartilhou com a população a sua habitual genialidade, falando em “extrema-direita”, lembrando Ulysses Guimarães e citando artigo da Constituição, para se referir aos “traidores da pátria”. O comunista esqueceu apenas de mencionar em que ponto Zema ultrapassou a linha e, numa crise repentina de amnésia, apagou da memória o momento em que ele mesmo, Dino, liderou movimento semelhante, quando era governador do Maranhão. A manchete da época foi: “Governadores do Nordeste criam bloco e consolidam polo de poder à esquerda”.

Divisões e disputas regionais são realidade em outras nações. Há divergências e até rivalidade entre o norte e o sul da Alemanha. Na Itália, então, nem se fala. Nos Estados Unidos, há ao menos duas grandes divergências geográficas: o Sul versus o Norte, e entre os Estados localizados no centro do país versus aqueles situados nas regiões costeiras. E, pasmem, isso fica evidente nas disputas eleitorais. Não é novidade, muito menos um escândalo. Pelo contrário. Invariavelmente existem regiões mais conservadoras e outras mais progressistas. E a vida segue.

Voltemos à nossa aldeia. Zema foi até elegante na sua fala. Há um absurdo desequilíbrio de forças políticas no Brasil. As razões já foram tratadas neste espaço. Não existe, por aqui, a paridade que vigora nos Estados Unidos, em que cada habitante tem o mesmo peso e representatividade (o famoso “um homem, um voto”). Em Banânia há uma representação mínima (oito parlamentares), geradora de distorções na Câmara Federal. É simples: o deputado federal menos votado, em 2022, por São Paulo, precisou de 71 mil votos para conquistar uma cadeira. Em Sergipe, bastaram pouco mais de 31 mil votos para chegar a Brasília. E se usarmos Roraima, no Norte, como exemplo, o dado é ainda mais assustador: bastaram pouco mais de 8 mil votos para que o candidato Pastor Diniz (União Brasil) fosse eleito. A distorção é gritante.

Do ponto de vista econômico, existem outros absurdos, a começar pela participação dos estados das regiões Sul e Sudeste no bolo de receitas da União. São os que mais contribuem e, ao mesmo tempo, os que menos recebem. Das 27 unidades da Federação, dados de abril deste ano, em 13 havia mais beneficiários do Bolsa Família do que trabalhadores com carteira assinada. Detalhe: todos os estados do Nordeste apresentam a distorção. O campeão? O Maranhão, governado pela família Sarney e, depois, por Flávio Dino. Lá, para cada trabalhador com carteira assinada, existem dois beneficiários do Bolsa Família. A conta, obviamente, não fecha.

Parabéns, Zema, por dizer a verdade. Aos demais, que leiam mais, estudem mais e parem de torrar a paciência com um coitadismo que não para em pé.


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