Super Bigode

Super Bigode

Venezuela e a distribuição do ‘Super Bigode’ natalino

Guilherme Baumhardt

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O governo ditatorial da Venezuela tentou trazer alguma alegria às crianças, no último Natal. Em um país onde mais de 90% da população vive na faixa de pobreza, brinquedos foram distribuídos aos pequenos. Entre eles, bonecos do “Super Bigode”, personagem de um desenho animado transmitido pela VTV, canal estatal de televisão.

Há alguns episódios disponíveis na rede. A produção é de uma patetice sem tamanho. Super Bigode é claramente inspirado no ditador Nicolás Maduro. O inimigo a ser vencido? Ganha um lote de ações da PDVSA (a falida petrolífera da Venezuela) quem apostou “Estados Unidos”. Zero surpresa. Faz parte da lógica esquerdista encontrar sempre um inimigo externo e camuflar as reais intenções que norteiam suas ações.

Na história brasileira há episódios assim. Durante o desgoverno Dilma Rousseff – uma tragédia econômica sem precedentes na nossa história – a culpa era do que acontecia “lá fora”. Detalhe: não havia recessão e a riqueza no planeta aumentava. Em 1964, com a ruptura, até hoje tem gente que jura de pés juntos que não havia no Brasil uma ameaça comunista – crença infundada, mas que é resultado da mesma estratégia, mas com sinal trocado. Para refrescar a memória: o mundo já estava dividido em dois blocos, algumas das pautas defendidas por João Goulart faziam parte da agenda esquerdista e havia por aqui grupos organizados, a começar pela União Nacional dos Estudantes, em sintonia com Cuba, União Soviética e China.

Anos mais tarde, com a democracia restabelecida, a América Latina viu nascer o famigerado Foro de São Paulo, novamente negado pelos seus integrantes e vendido como paranoia da cabeça de conservadores e reacionários de direita, uma tentativa de colocar em descrédito todos os alertas feitos – boa parte deles por Olavo de Carvalho. O agrupamento dos tiranetes não apenas é uma realidade, como volta e meia a turma sai da toca. Uma das mais recentes manifestações veio a público depois que Hugo Carvajal (El Pollo Carvajal), prócer do regime venezuelano, expor em detalhes as entranhas das relações entre o Foro e o narcotráfico. Teve até nota oficial refutando as informações trazidas pelo delator.

É assim que funciona. Toda vez que a vida real bate à porta, a esquerda trata de apontar o dedo para o bode expiatório mais próximo. Podem ser os Estados Unidos, pode ser o imperialismo ou qualquer coisa que o valha. A verdade, porém, é outra. E é dura. Em 2018, a BBC (canal de notícias do Reino Unido) produziu uma série de reportagens sobre a realidade venezuelana. Um dos textos trazia a seguinte manchete: “Na Venezuela, venda de carne podre e cadáveres que explodem por falta de eletricidade em necrotérios”. No material, um relato assustador, de embrulhar o estômago: “As moscas voam sobre os cadáveres, que jazem à temperatura ambiente. Ali há homens, mulheres e, também, crianças. Caminhando pelo chão pegajoso e desviando de manchas de sangue, chega-se a refrigeradores que, há muito tempo, não refrigeravam nada. As falhas constantes no fornecimento de eletricidade, um problema comum em Zulia, comprometeram os equipamentos e os tornaram inúteis”.

O relato do funcionário local é estarrecedor: “A agência funerária não os leva (cadáveres) porque diz que o governo não paga o que deve. As famílias também não podem pagar, na situação atual, o custo de um enterro. Nem o hospital, nem o governo, nem o gabinete do prefeito se pronunciam para ajudar os familiares". E é bastante provável que de 2018 para cá a situação tenha piorado ainda mais.

Que pessoas mais simples e de menor grau de escolaridade tenham votado na promessa da “picanha e cervejinha”, fantasia mentirosa vendida pela campanha lulopetista para ludibriar o eleitor, eu até entendo. O que é intragável é ver gente com razoável grau de instrução, alguns com formação superior, fazendo vistas grossas ao que Lula e seus satélites representam. Se já estivéssemos sob governo lulista, não seria um absurdo imaginar que os tais bonecos (do Super Bigode) distribuídos às crianças do país vizinho fossem pagos com o nosso dinheiro, via BNDES.


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