Tirania I

Tirania I


Liberdade de expressão em xeque: censura e consequências no mercado

Guilherme Baumhardt

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Durante a semana, a liberdade de expressão levou duas pancadas. Primeiro, foi o youtuber Monark, que teve as redes sociais banidas por decisão do iluministro Alexandre de Moraes. Monark cometeu o “crime” de questionar as urnas e o sistema eleitoral brasileiro. Dias depois, o alvo foi Marcos do Val, senador da República, que deveria (se ainda houvesse lei no Brasil) estar protegido pela imunidade parlamentar. No caso do congressista, houve até busca e apreensão por parte da Polícia Federal.
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Tirania II
E assim, a cada dia, a cada semana, a lista da mordaça fica maior: Monark, Marcos do Val, Rodrigo Constantino, Luciano Hang, Allan dos Santos... Aliás, no último caso, há o ápice do absurdo. O jornalista, que hoje mora nos Estados Unidos, foi alvo de um pedido de extradição. Em março, as autoridades norte-americanas solicitaram mais informações, para levar o caso adiante. Diante do absurdo (crime de opinião só existe em república bananeira), dois meses depois, em maio, Allan dos Santos recebeu o tão desejado Green Card.
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Quem lacra...
...não lucra. É o que diz um ditado, que parece cada vez mais fazer sentido. A Bud Light era a marca líder no mercado de cervejas dos Estados Unidos. Até o dia em que a empresa resolveu convidar um travesti para estrelar as novas peças de publicidade da empresa. O que veio a seguir foi uma tragédia. A Bud Light perdeu a liderança do ranking, viu os concorrentes decolarem e a fatia do mercado, até agora, foi reduzida em 20%. As perdas no mercado acionário (desvalorização dos papéis) superam 20 bilhões de dólares.
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Burrice mercadológica
Ao contrário do que o pensamento raso e superficial pode sugerir, não se trata de preconceito. Os Estados Unidos são uma nação com alguns dos direitos civis mais avançados do mundo, em que a liberdade (inclusive sexual) é respeitada. Mas no lugar de uma campanha inteligente, a turma do marketing (atenção donos e gestores de empresas!) resolveu partir para a lacração pura e barata. É uma estupidez sem tamanho, que ignora as razões do sucesso do próprio produto.
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Bons tempos
Se a ideia é causar impacto e provocar alguma reflexão, a turma deveria se inspirar em peças de publicidade como as produzidas pela Benetton, fabricante de roupas de origem italiana. Algumas entraram para a história, pela força e impacto produzido. Anos atrás, quando o mote era o preconceito racial, em gigantescos outdoors, acima das palavras “branco”, “negro” e “amarelo”, estavam três corações humanos, absolutamente idênticos. Em outra ação, uma mulher negra, com os seios à mostra, amamentava um bebê branco. Havia uma mensagem rica, de igualdade e respeito, de que somos todos iguais, independentemente da cor da pele ou etnia. O que se vê hoje não passa de lacração barata.
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Culpados
Se existem exemplos de sobra, de erros cometidos por empresas nas estratégias de comunicação e marketing, o que explica a insistência em tropeços gigantescos? Arrisco uma resposta. Há uma onda produzida pela chamada geração woke – que, em uma tradução imperfeita, tenta destacar a juventude que “despertou” para questões importantes, como meio ambiente, justiça social e outros. Por melhores que sejam as intenções, trata-se de uma moçada para a qual falta bagagem e, em alguns casos, um mínimo raciocínio lógico. Trago exemplos. Para eles, apenas carros elétricos são válidos, porque são “ambientalmente corretos”. O que muitos ignoram é que a fabricação das baterias é uma atividade que provoca um severo impacto ambiental e que, em inúmeros países, a energia elétrica que vai abastecer os veículos é gerada com a queima de combustíveis fósseis ou não renováveis.
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Armadilha I
Na esteira disso, a política ESG segue fazendo vítimas. A sigla é bonita e até já tratei dela aqui, na coluna. Em inglês, Environmental, Social and Governance. No bom português, Governança Ambiental, Social e Corporativa. Em linhas gerais, a ideia é estabelecer uma espécie de ranking, em que boas políticas contam pontos para uma determinada empresa, principalmente na comparação com seus concorrentes. Lindo, exceto pelo fato de que, em função de premissas equivocadas, o lucro (objetivo principal de todo e qualquer negócio) é relegado a um segundo plano.
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Armadilha II
Empresas que adotaram o ESG como ferramenta de gestão já se deram conta da enrascada em que se meteram e saltaram fora, após amargarem prejuízos. Outras insistem no erro. Mas o lado mais absurdo dessa bobagem foi externado nesta semana por ele, sempre ele, Elon Musk. O dono da Tesla, SpaceX e, mais recentemente do Twitter, compartilhou um texto do repórter Aaron Sibarium: “Da S&P Global [empresa de análise de mercado] até a Bolsa de Valores de Londres, as empresas de tabaco estão esmagando a Tesla nas classificações ESG. Como os cigarros, que matam mais de oito milhões por ano, podem ser considerados um investimento mais ético do que os carros elétricos? Uma resposta: o tabaco virou woke (ver nota acima)”.


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