Tiranos

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Os autores da pesquisa analisaram os resultados de quase 20 mil estudos mundo afora.

Guilherme Baumhardt

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Durante a pandemia, não foram poucos os estudos que questionaram a eficácia de medidas duras como o lockdown, que no Brasil ganhou a alcunha de “fecha tudo”. Outras apareciam no mesmo pacote. Alguém aí esqueceu do famoso “achatar a curva”, dito nas coletivas de imprensa do então ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta? Junto delas, como se fosse possível dissociar uma coisa da outra, vinha a famosa frase “a economia a gente vê depois”. Havia um problema: o vírus. Criamos um segundo: um caos econômico de proporções vistas apenas em períodos pós-guerra.

Eis que, agora, uma nova pesquisa, liderada pelas universidades Johns Hopkins (Estados Unidos) e Lund (Suécia) coloca em xeque o espírito tirânico de governantes mundo agora. Entram no olho do furacão o Canadá, do protoditador Justin Trudeau – que autorizou a polícia a arrancar famílias de dentro das suas casas em nome do isolamento –, passando pela Austrália – que ergueu campos de concentração para pessoas contaminadas –, até chegar ao Brasil, em que alguns governadores e prefeitos compraram (sem direito a questionamento) os chamados lockdowns. Eram situações que lembravam a China comunista ou a ainda mais fechada Coreia do Norte, mas estávamos diante de países democráticos e, acreditávamos, livres.

Os autores da pesquisa analisaram os resultados de quase 20 mil estudos mundo afora. A conclusão: prender as pessoas dentro das próprias casas e colocar uma mordaça na atividade econômica tiveram “impacto insignificante” na mortalidade por Covid, além de representarem uma “falha política de proporções gigantescas”. Aos que não sabem, a Johns Hopkins é uma das mais importantes faculdades de medicina do mundo. O painel da instituição durante a pandemia era um dos mais criteriosos do planeta e usado como fonte por pesquisadores de todo o planeta. A Suécia, onde fica a Universidade de Lund, remou contra a maré, não adotou medidas de restrição absoluta e colheu resultados não muito diferentes dos países em que a tirania dos governantes encontrou terreno fértil.

Ações como o “fecha tudo” seriam até aceitáveis no início da pandemia, quando pouco ou quase nada se sabia a respeito do tema. É, até certo ponto, compreensível. Inaceitável é a insistência na fórmula mesmo após inúmeras evidências apontarem a sua ineficácia. Esperava-se algo, mas o resultado era outro. A partir deste ponto ficou evidente a divisão da turma em dois grupos: aqueles que gostaram de governar com uma caneta poderosíssima nas mãos e impor a sua vontade, e aqueles que possuem dobradiça na espinha e tinham medo da patrulha ou da vaia. Pelo visto, os dois grupos produziram o mesmo resultado: não salvaram vidas como pretendiam e ainda enfiaram a economia em um buraco jamais visto.

Dias atrás tratei, em uma nota, sobre os remédios “proibidos” durante a pandemia. Surgem resultados cada vez mais robustos de que inúmeros protocolos baniram substâncias que eram, na verdade, aliadas no tratamento dos pacientes. Estamos tratando da retirada do protocolo de fármacos conhecidos há bastante tempo, com baixo risco e baixo custo. Um dia, talvez, tenhamos a “comprovação científica” dos motivos que levaram muita gente a comprar a tese, inclusive com a tentativa de vedar aos demais médicos a possibilidade de prescrição.

Criminalizamos quem tentou, na maioria dos casos com a anuência da família ou do próprio paciente, oferecer uma luz no fim do túnel. Ao mesmo tempo, matamos a raiz do que é a ciência, produzindo, durante a pandemia, certezas sólidas como geleia. Diante de situações assim, seja no caso das políticas draconianas (inúteis), seja pela proliferação do “medicações sem eficácia comprovada”, fica a pergunta: quem é mesmo o negacionista? Parabéns aos envolvidos.

 


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