Ucrânia, Rússia e a fantasia

Ucrânia, Rússia e a fantasia

O preguiçoso jornalismo brasileiro, pelo visto, sequer desconfia de agência de notícia estatal

Guilherme Baumhardt

publicidade

O preguiçoso jornalismo brasileiro, pelo visto, sequer desconfia de agência de notícia estatal. Em casos assim, eu, você (leitor informado) e todos com um pingo de racionalidade sabem que não estamos tratando de um órgão de jornalismo independente, mas de gente ligada a um governo ou a um partido. No caso a seguir, há um agravante: estamos falando da Rússia, país que ainda respira resquícios do período soviético (ditatorial).

Pois bem. A imprensa brasileira, de maneira geral, passou a quinta-feira reproduzindo material da agência Tass – que faz muito mais propaganda do que jornalismo – ao citar o fragmento de um texto que citava o Brasil, na guerra que envolve russos e ucranianos. O recorte: Rússia analisa proposta de paz brasileira. A realidade: o chanceler russo diz que o país analisa propostas de paz (não apenas a brasileira, mas inúmeras outras), levando em consideração o “equilíbrio brasileiro”. Há uma grande diferença. Em um caso, é a proposta tupiniquim. No outro, a tônica que guiará aquilo que será levado adiante. Ele prossegue dizendo que o cessar-fogo depende de uma “desnazificação” da Ucrânia, associada ao baixar armas dos países do Ocidente, entre outros aspectos.

O que parece falar mais neste momento é a economia. Ninguém quer seguir torrando grana com o conflito, o mundo está na expectativa de crescimento econômico, principalmente após uma pandemia que produziu primeiro recessão e, depois, inflação. E a guerra entre Rússia e Ucrânia é um gigantesco entrave neste momento para a expansão da atividade econômica mundial. Como disse um assessor de campanha de Bill Clinton, se referindo aos erros de estratégia e discurso de George Bush (o pai), na campanha presidencial de 1992: “É a economia, estúpido!”.

Como recordar é preciso, se estivéssemos tratando da proposta lulista (e não a da diplomacia brasileira), bastaria convidar Vladimir Putin e Volodymyr Zelensky para uma mesa de bar, descer meia dúzia de cervejas geladas, apertar as mãos e decretar o fim do conflito.

Turma “animada”
Um grupo de dissidentes do movimento bandoleiro conhecido como MST invadiu uma série de propriedades rurais na região Oeste de São Paulo. Os invasores (“ocupação” é coisa de simpatizante) são liderados por José Rainha, que deixou o Movimento dos Sem-Terra há alguns anos. Ao menos nove fazendas foram alvo da horda. Publicamente, a tal Frente Nacional de Luta Campo e Cidade vem com a velha e surrada ladainha de que as áreas não cumprem “função social”. Pelo visto, depois de quatro anos de relativa paz no campo, os tais "movimentos sociais" resolveram ficar assanhados novamente.

Aliás...
Os defensores do MST sempre utilizaram como argumento de defesa do movimento o arroz orgânico produzido por assentados, no Rio Grande do Sul. Trata-se da famosa laranja de amostra. Há um excelente texto disponível na Internet (procure por “Xico Graziano arroz orgânico MST”). Com dados, pesquisa e informações robustas, o conto da carochinha é desmontado. Em síntese: trata-se de um projeto paraestatal, que levou quase uma década para funcionar, que contou com pesado investimento do governo e que resultou em baixa produtividade (até certo ponto esperada). Para completar: é uma lavoura de custo elevado e baixo retorno ao produtor.

Caminho longo
O comandante Militar do Sul, general Fernando Soares, foi o entrevistado desta sexta-feira, no Agora, da Rádio Guaíba. Entre assuntos mais leves e descontraídos, ele foi questionado sobre a frustração de uma parcela da população, especialmente aqueles que estavam em frente aos quartéis, esperando uma ação das Forças Armadas, após a eleição de 2022. Ele foi enfático ao afirmar que nunca houve qualquer discussão interna sobre intervenção. Sobre a possibilidade de mudanças no artigo 142 e a criação de uma Guarda Nacional, o general afirmou que a pressão daqueles contrários aos projetos deve ser direcionada para deputados e senadores. Mesmo que a fala do comandante seja carregada de racionalidade, é fato que levará tempo para que as Forças Armadas recuperem a confiança perdida junto a alguns brasileiros. O caminho é longo.

Amazônia
Dados do Deter (um dos sistemas utilizados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais): o desmatamento da Amazônia, no mês de fevereiro, é o maior da série histórica, iniciada em 2015. Até a metade do mês, uma área equivalente à cidade de João Pessoa teve a floresta cortada. E eu acreditava que este problema estava resolvido desde o dia 1° de janeiro. Sou mesmo um ingênuo.

Inacreditável
Acredite se quiser: teve colunista de economia de jornal do eixo Rio-São Paulo defendendo o aumento de impostos sobre a gasolina, que deve ocorrer a partir de março (PIS e Cofins). Como dizia o personagem do Jô: “Me tira os tubos!”.

 


Mais Lidas

Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895