Um governo sem rumo e emparedado

Um governo sem rumo e emparedado

O jornalismo conseguiu aquilo que deputados e senadores tentavam até aqui

Guilherme Baumhardt

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E agora, deputados? E agora, senadores? As imagens da invasão do Palácio do Planalto, no dia 8 de janeiro, mostram que faltaram apenas chá e biscoitos na recepção aos que entraram sem convite no local. Portas abertas, tropas em rota de fuga e praticamente nenhuma resistência daqueles que deveriam zelar pela integridade de um local que não é do presidente de plantão, mas de toda a população. O material trazido pela emissora CNN coloca o governo no olho do furacão.

O jornalismo conseguiu aquilo que deputados e senadores tentavam até aqui, sem sucesso: jogar luzes sobre o episódio. A criação de uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) esbarra na subserviência do atual presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, que já deu inúmeras demonstrações de que tem dobradiça na espinha. O que se viu na época foram prisões feitas a esmo e, segundo a defesa de muitos dos detidos, sem critério. Gente que sequer estava em Brasília, de acordo com advogados e parlamentares, foi levada injustamente para a cadeia.

As imagens eram o caminho mais rápido e eficaz de separar o joio do trigo e atribuir a exata responsabilidade de cada um no episódio. Mas o governo federal nunca liberou o material, mesmo com os insistentes pedidos. Além do papel de cada um dos invasores, outra dúvida paira no ar, até hoje sem resposta precisa: havia ali, em meio aos manifestantes que usavam verde e amarelo, gente infiltrada? Não é uma pergunta absurda. Black blocs, por exemplo, operam assim.

Do pouco que vinha a público, nós − população − recebíamos em doses homeopáticas, a conta-gotas. É possível contar nos dedos de uma mão o que foi divulgado: a imagem do relógio destruído, a tela de autoria de Di Cavalcanti sendo furada e não muito mais do que isso. Além disso, aqui e ali, surgiam indícios de que o governo federal havia sido alertado da invasão. E nada fez.

Nas imagens divulgadas nessa quarta-feira, integrantes do Gabinete de Segurança Institucional – que deveriam zelar pelo local – abrem portas e facilitam o acesso dos invasores, enquanto outros batem em retirada, em um movimento que parece seguir uma ordem, algo orquestrado, como se houvesse algum comando naquele sentido. Fica evidente, também, que há divergências entre os invasores do Planalto. Enquanto alguns depredam, outros condenam o vandalismo. Muitos estão com o rosto à mostra, enquanto outros usam máscaras.

Chama a atenção a atuação do ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, general Marco Edson Gonçalves Dias. Ele praticamente recepciona aqueles que, aos poucos, invadem corredores e salas da sede do governo. São 160 horas de gravação, registradas por 22 câmeras. Por ser militar (estamos falando de um general), já teve gente que se apressou em colar a figura do ministro ao ex-presidente Jair Bolsonaro. Para esses, um breve resumo.

A proximidade de Gonçalves Dias com o petismo é notória. Além de ter integrado a equipe de transição, ainda em dezembro de 2022, ele foi oficializado à época como titular do GSI do novo governo eleito. Quando major e tenente-coronel, entre os anos de 2003 e 2009, ele atuou na segurança pessoal do presidente Lula, nos dois primeiros mandatos. A proximidade entre ambos voltou, na campanha de 2022, quando colaborou com a segurança do então candidato petista durante o período eleitoral. No governo Dilma, o atual titular do GSI exerceu a função de chefe da Coordenadoria de Segurança Institucional.

Se o clima político, em Brasília, já não era dos mais estáveis, foi fortemente abalado com o material trazido na quarta-feira. O que víamos era um governo sem rumo e errando a mão, especialmente na economia. A partir de hoje, muito provavelmente, veremos um governo acuado.


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