Uma história que dará pano pra manga

Uma história que dará pano pra manga

Com tantas versões, é preciso esperar os próximos capítulos

Guilherme Baumhardt

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O protagonista é o senador Marcos do Val. Os episódios surgem sem anúncio ou propaganda prévia. O roteiro dá guinadas surpreendentes. E os telespectadores, bem, estes ficam perdidos em meio a tantas idas e vindas. De uma nota oficial, em que anunciava a desistência da carreira política, a uma volta atrás, dizendo que permanecerá no Senado, o representante eleito pelo Espírito Santo se vê agora no meio de uma turbulência criada por ele mesmo.

Em uma entrevista para a Revista Veja, Marcos do Val falou em golpe. E acusou Daniel Silveira e Jair Bolsonaro de tramarem contra a democracia. Logo depois, uma reviravolta. Não era bem assim. Daniel, sim, propôs gravar o “iluministro” Alexandre de Moraes, mas Bolsonaro, durante a reunião, teria ficado em silêncio. Uma nova versão a cada cinco minutos (força de expressão).

De herói da esquerda (o sujeito que denunciou o golpe), Marcos do Val agora é visto como oportunista, que deseja apenas criar um factoide que serviria de pretexto para a criação de uma CPI, no Congresso. É o que dizem - agora - as bancadas governistas. Do céu ao inferno. E tudo isso em questão de dias.

O que pensa o colunista? Se o anúncio do senador de que estava desistindo da política, do Brasil, para ir morar nos Estados Unidos não despertou grande interesse, agora eu quero mesmo é que tudo venha à tona. Curiosamente, Randolfe Rodrigues, por exemplo, pensa exatamente o oposto. Primeiro, o ex-senador classificou Marcos do Val como “a prova que faltava”, sobre as intenções antidemocráticas de Bolsonaro. Agora, os pares de Randolfe no governo pretendem acionar o senador capixaba no Conselho de Ética.

Definitivamente o Brasil e Brasília, em especial, não são para amadores. O que virá? Não sei. Aguardemos as cenas dos próximos capítulos.

Mais respeito

Lula se referiu ao presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, como “esse sujeito”, em uma entrevista de televisão. Respeito é bom e todos gostam. Campos Neto foi escolhido recentemente o melhor presidente de BC do mundo. O trabalho de recolocar a inflação em patamares saudáveis começou mais cedo no Brasil e deu resultado antes mesmo de países desenvolvidos, como Estados Unidos e nações europeias – que ainda sofrem com a alta de preços. Lula já é suficientemente experiente para saber que o fenômeno inflacionário prejudica principalmente os mais pobres. Se quisesse mesmo melhorar a vida de quem ganha menos, a primeira coisa a ser anunciada deveria ser a manutenção de Campos Neto à frente do BC. No lugar disso, o petista dá mostras de que pretende retirar a autonomia do Banco Central.

 

Futuro...

Com as principais estatais privatizadas (CEEE e Corsan), reforma da previdência aprovada e com equilíbrio na gestão, o Rio Grande do Sul entra agora em uma nova fase, jamais vivida por estas bandas. Após guinadas políticas radicais na administração do Estado, com dois governos do PT intercalando administrações de centro ou centro-direita, temos uma oportunidade única de experimentar uma sequência sem grandes sobressaltos. Eduardo Leite é o primeiro reeleito e o seu primeiro mandato já foi, em grande parte, uma espécie de continuidade do que fez José Ivo Sartori. É hora de inovar, o que não significa reinventar a roda. Singela sugestão: olhar para Santa Catarina, para copiar as boas iniciativas. Nossos vizinhos atingiram o pleno emprego e têm disparado um dos melhores ambientes de negócios do Brasil.

...e desafios

Sim, há obstáculos no horizonte. Ainda não é possível precisar, por exemplo, o impacto que a estiagem trará para o Estado. Já houve avanços no sentido de desobstruir a construção de açudes e barragens, algo que amenizaria ou até resolveria o problema, mas ainda existem problemas sérios a serem resolvidos. Perdas de safra prejudicam toda a economia. Só espero que a saída, diante de um eventual cenário negativo, não seja mais uma vez o aumento de impostos – inegavelmente a melhor maneira de reduzir competitividade, afugentar investimentos e esfriar a atividade econômica.


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