Uma injeção de vida real

Uma injeção de vida real

O mercado somos eu e você. Somos todos nós

Guilherme Baumhardt

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O jornalista e economista Rodrigo Constantino anunciou que mudará o foco da sua atuação profissional. Dedicará seu tempo para cursos e palestras, para a formação especialmente de jovens lideranças. Com isso, não fará mais comentários sobre o universo político nos espaços que ocupava. Não se preocupe se isso passou batido por você. Constantino está com suas redes sociais suspensas no Brasil, por imposição de Alexandre de Moraes. E este é o ponto mais preocupante.

Aquilo que já deveria ter provocado uma onda de indignação na sociedade e, principalmente, na imprensa, simplesmente não ocorreu. O silêncio sepulcral de parcela expressiva da mídia assusta. Esse pessoal não se dá conta de que amanhã serão eles? De que é apenas uma questão de tempo para que toda e qualquer crítica seja calada por imposição de uma lei que existe apenas na cabeça de alguns “iluministros”? Se o silêncio assusta, o que apavora ainda mais é ver que tem jornalista aplaudindo isso.

Quando uma voz com a potência e o alcance que Rodrigo Constantino tem decide se calar é um sinal muito forte de que a tirania está vencendo o jogo. No momento em que a rádio Jovem Pan é alvo de uma ação do Ministério Público, com um arrazoado de absurdos que tentam justificar a mordaça a um veículo de comunicação, e isso não causa espanto, a pergunta é: a quantos passos estamos de uma ditadura absoluta?

Aqui e ali, ainda de maneira muito tímida, é possível ver um ou outro sinal de arrependimento. Em uma linha de um editorial, na posição de um colunista ou comentarista. Mas é tudo muito singelo, fraco, tênue. É vergonha do que fizeram? Ou é medo? Se for a primeira opção, ainda dá tempo de corrigir a besteira dos últimos quatro anos, quando martelaram insistentemente que Jair Bolsonaro era um ditador em potencial. E quebraram a cara. Se for a segunda opção, é mais uma vitória da opressão.

Se seguirmos nesta toada, em breve teremos edições aqui do Granma ou do Pravda. Que poderá ter outro nome. “Brasil Maravilha”? Ou quem sabe “Supremo Diário”? Melhor ainda: “Folha Picanha e Cervejinha”. Isso é o de menos. O que interessa é que será o jornal perfeito, sem críticas e posições dissonantes do que desejam aqueles que estão encastelados no poder central. Daí para termos por estas bandas o equivalente ao “Super Bigode”, como ocorre na Venezuela, não faltará muito. A dúvida é saber se a figura a ser enaltecida por um brinquedo será a do ocupante do Palácio do Planalto ou de um dos “iluministros”.

Não se preocupe. Quando o barco começar a afundar (porque ele irá afundar), a culpa não será de nenhum dos timoneiros. Obviamente nossos inimigos serão externos, nossos vilões estarão fora das nossas fronteiras. E o primeiro alvo já foi escolhido: o mercado. Ah, o mercado! Tratado como um ente malvado e que promove a pobreza, fruto da reunião dos grandes e poderosos, parte da imprensa já comprou facilmente a tese vendida pelo petismo, de que “o mercado não tolera Lula”.

Mercado não é nada disso. Mercado somos eu e você. Somos todos nós. Uns maiores, outros menores. Alguns com ações negociadas em bolsa, outros que têm como sócio a esposa ou um irmão, em empresas familiares. Mercado é você que vende, sou eu que compro, é o funcionário que me atende. O mercado é movido à base de confiança. E toda e qualquer pessoa com um pingo de informação não deposita, neste momento, um tostão furado no novo governo. É plausível, afinal, todos os sinais apontam para o caos.


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