É preciso conter Maduro

É preciso conter Maduro

Ditador venezuelano almeja anexar território da Guiana e silenciar opositores, desafiando até mesmo apoiadores como Lula

Jurandir Soares

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O ditador da Venezuela, Nicolás Maduro, parece estar absoluto para determinar tudo, não só no âmbito de seu país, mas também da vizinhança. A ponto de chegar ao absurdo de determinar que dois terços do território da vizinha Guiana passam a ser parte de seu país. Uma das ações mais absurdas que se viu nos últimos tempos. No âmbito interno, Maduro foi eliminando um a um os candidatos oposicionistas com potencial para derrotá-lo nas eleições de 28 de julho. As ações de Maduro são tão estapafúrdias que ele chegou a bater de frente com o seu maior apoiador na América Latina: o presidente Lula. Aquele que tentou vendê-lo como um democrata que não era entendido, durante encontro de presidentes sul-americanos em Brasília. Sobrou para Lula, que disse que a Venezuela era “vítima de uma narrativa”, a acusação de intromissão indevida nos assuntos venezuelanos e de emitir nota ditada pelos Estados Unidos. Isto, quando Lula manifestou “preocupação” com a lisura do processo eleitoral da Venezuela.

A Eleição

A eleição na Venezuela foi objeto de um acordo realizado no ano passado na ilha de San Vicente e Granadinas e mediado pela Noruega, contando com representantes do governo e da oposição. Os Estados Unidos também mandaram representante, o qual acreditou tanto no que fora acordado naquele encontro, tendo levado seu país a aliviar algumas das sanções que impusera à Venezuela. Doce ilusão. Bastou ser definida a data da eleição e a oposição realizar convenção e apresentar sua candidata, para as garras de Maduro aparecerem. A oposição escolheu a deputada María Corina Machado. Porém, foi só aparecer a primeira pesquisa de opinião apontando María Corina como franca favorita, para a tesoura de Maduro entrar em ação. Pesquisa então realizada pelo Instituto La Salle dava à oposicionista 70% da preferência do eleitorado, contra 15 a 20% de Maduro. Solução: caçar os direitos políticos de María Corina por 15 anos, pelo fato de ela ter denunciado à Corte de Justiça da OEA a repressão da ditadura a uma manifestação popular, em 2017, que resultou em 103 mortos.

Impedida de concorrer, María Corina indicou sua assessora Magali Meda. Esta, de repente, teve que pedir asilo na Embaixada da Argentina em Caracas para não ser presa. Então, veio a candidatura da professora Corina Yoris, de 80 anos. Passou-se o tempo de inscrição e esta não conseguiu acessar o sistema. Ou seja, a oposição não conseguiu inscrever ninguém. Mas, para não dizer que Maduro estará sozinho no pleito, foi facilitada a inscrição de alguns “oposicionistas”. Ou seja, gente de Maduro que posa de opositor, assim como Putin fez na Rússia.

A Tomada

Agora vem este anúncio de um decreto que torna como território venezuelano a província de Essequibo, que corresponde a dois terços da área da Guiana. Este súbito interesse, em nome de fatos históricos, tem uma explicação no presente. As grandes jazidas de petróleo que foram descobertas nas águas territoriais de Essequibo em 2015. Riqueza que vem se somar às reservas de diamante, ouro e bauxita existentes na selva da província. Riquezas que fizeram a renda per capita da população guianense se tornar a mais alta da América Latina. Uma cobiça para o incompetente governo de Maduro, que conseguiu sucatear a produção de petróleo no país que tem uma das maiores reservas mundiais do produto. A situação tornou-se tão absurda que os venezuelanos ficaram sem ter gasolina para abastecer seus veículos. O regime estabelecido no país é tão nefasto que sucateou a PDVSA, depois de ter inviabilizado a indústria em geral do país.

A Reação

Mais uma vez uma decisão de Maduro não encontra respaldo no seu parceiro brasileiro. Aliás, não encontra respaldo em parte alguma pelo absurdo que é. O assessor da presidência brasileira para assuntos externos, Celso Amorim, disse que o decreto de Maduro não tem valor. É preciso destacar que o governo brasileiro tem um papel crucial nesta decisão de Maduro. Isto porque, para invadir a Guiana por terra, as forças venezuelanas precisam passar pelo território brasileiro, pois não há uma rodovia ligando os dois países. E, neste caso, o governo brasileiro não pode ser conivente cedendo passagem. É preciso reforçar a presença militar brasileira junto à fronteira.

Mas há ainda dois outros “bons argumentos” para demover Maduro de sua intenção. São as frotas dos Estados Unidos e do Reino Unido. No final do ano passado Maduro já se assanhou para uma invasão. Então, os EUA decidiram realizar manobras militares conjuntas com a Guiana, enquanto que o Reino Unido deslocou um navio de guerra para a região. O recado não podia ser mais claro e Maduro recuou. Agora ele vem novamente com este esdrúxulo decreto. Porém, este é mais um fator que as ditaduras costumam usar. Quando estão em baixa internamente, arranjam uma questão internacional que tenha o respaldo de sua população para se promover. A questão de Essequibo já foi alvo de plebiscito, realizado por Maduro com a mesma “confiabilidade” com que ele promove as eleições.


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