Índia e China batem de frente

Índia e China batem de frente

Na ocasião resultaram mortos 20 soldados indianos e quatro chineses.

Jurandir Soares

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O G-20, grupo que reúne as vinte maiores economias do mundo, tem reunião a partir de hoje e até o final da semana, em Nova Déli, na Índia. Duas ausências importantes já são anunciadas. As dos presidentes da Rússia e da China. Vladimir Putin não vai a Nova Déli pela mesma razão que não foi ao encontro dos Brics em Johannesburgo: se comparecer, será preso por ordem do Tribunal Penal Internacional, que o condenou por crimes de guerra praticados na Ucrânia. Já Xi Jinping não vai porque a Índia é um inimigo, com o qual tem estado em guerra nos últimos 60 anos. Está certo que é uma guerra concentrada, no Himalaia, onde os dois países têm diferenças com relação aos limites fronteiriços. Mas é um conflito que vem se estendendo desde a década de 1960. A ausência de Xi Jinping serviu para a Índia acirrar os ânimos, anunciando 11 dias de operações militares, que o ministro da Defesa chamou de “manobras anuais de treinamento”, nas zonas de fronteira com a China e com o Paquistão, ou seja, com dois inimigos históricos. E todos esses exercícios estarão se desenvolvendo simultaneamente com a cúpula do G-20.

A região do Himalaia foi cenário do mais recente conflito armado entre China e Índia em junho de 2020. Na ocasião resultaram mortos 20 soldados indianos e quatro chineses. Mas a China acaba de colocar mais lenha na fogueira com o anúncio que fez sobre atualizações para corrigir “mapas problemáticos” que deturpam “as fronteiras do país”. Um anúncio que irritou não só a Índia, mas também os membros da Asean – Associação das Nações do Sudeste Asiático, que estão reunidos na Indonésia. Com relação à Índia, pela nova versão chinesa, o estado de Arunachal Pradesh, no Himalaia, e planalto de Aksai Chin, viraram território chinês. Ao chamar o mapa chinês de “absurdo!”, o chanceler da Índia, Subrahmanyan Jaishankar, disse que “no passado a China publicou mapas que reivindicam territórios que não são da China, que pertencem a outros países”. Já Brunei, Vietnã, Filipinas, Indonésia e Malásia, membros da Asean, têm visto Pequim expandir seus domínios pelo Mar do Sul da China. O regime de Xi Jinping tem considerado suas águas territoriais de seus vizinhos, tomado ilhas na região e construído ilhas artificiais, onde coloca bases militares. O governo filipino, apoiado militarmente pelos EUA e em antagonismo crescente com a China, adiantou que irá propor um comunicado conjunto contra Pequim. Ou seja, em dois fóruns Pequim está sendo alvo de profundas críticas, devido ao seu expansionismo. Cumpre ressaltar que o mapa da China, que anteriormente tinha nove raias, acrescentou mais uma. E esta décima inclui Taiwan aos seus domínios. 

E tanto Taiwan quanto Índia tem sido fator a azedar as relações da China com os Estados Unidos. Recentemente, o Congresso americano aprovou o envio de nova ajuda em armamentos à ilha que Pequim quer retomar, aumentando as tensões entre os dois países. Soma-se a isto a aliança estabelecida entre Washington e Nova Déli, em fevereiro último. Na ocasião, os dois países acertaram cooperação entre os setores militares e uma coordenação operacional na região do Indo-Pacífico. Em termos operacionais, os militares dos EUA e da Índia têm a intenção de desenvolver segurança e inteligência marítima, bem como capacidades de reconhecimento e vigilância, conforme informou o comunicado na ocasião. Tudo, evidentemente, com vistas a enfrentamentos com a China. Vale lembrar ainda que os EUA e a Índia, juntamente com o Japão e a Austrália, são membros do Quad, ou Quadrilateral Security Dialogue (Diálogo de Segurança Quadrilateral, em português), um grupo informal focado em segurança criado no início dos anos 2000. A aliança se tornou mais ativa nos últimos anos como parte dos esforços para combater o alcance e as reivindicações territoriais da China na região do Indo-Pacífico. Ou seja, tanto os Estados Unidos quanto a Índia, assim como países vizinhos da China, buscam se proteger contra o expansionismo chinês. E se com Washington Pequim ainda está conseguindo manter algum diálogo, com Nova Déli, como se observa pela ausência de Xi Jinping à cúpula do G 20, este está interrompido.


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