A ameaça de Putin e a realidade

A ameaça de Putin e a realidade

Putin já tinha uma resposta do Ocidente para sua afirmação. Com seu pronunciamento acabou jogando para a torcida.

Putin ameaçou o Ocidente com o uso de bomba atômica para responder a ações na Ucrânia

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Em um pronunciamento de mais de duas horas nesta quinta-feira, 29, o presidente russo Vladimir Putin, ameaçou o Ocidente com o uso de bomba atômica para responder a ações na Ucrânia. “Os oponentes da Rússia devem lembrar que possuímos armas capazes de alcançar objetivos em seus territórios. Tudo isto ameaça desatar um conflito com armas nucleares”.

Em primeiro lugar, a ameaça não é só para o Ocidente, mas, inclusive, para o povo russo, pois haveria a corresponde resposta, acontecendo o que o próprio Putin disse: “A destruição da civilização”. Em segundo, é preciso salientar que o pronunciamento é uma mera retórica, embora não deixe de ser perigoso. Desde que começou a guerra na Ucrânia, há dois anos, autoridades russas vêm falando no uso de tais artefatos. Trata-se, inquestionavelmente, de ações puramente intimidatórias, por todos saberem as consequências de tais atos. O que significa que estamos muito longe dessa possibilidade.

A manifestação de Putin não se justifica ainda pelo fato de que o assunto que levantou a suspeita de uma confrontação das tropas da OTAN com a Rússia já havia sido superado. Conforme destaquei na coluna de quinta-feira, 29, o presidente da França, Emmanuel Macron, criou uma expectativa de que esta confrontação pudesse se realizar, ao fazer um pronunciamento, dizendo estar disposto a enviar tropas francesas para lutar ao lado das ucranianas. Na ocasião, Putin declarou que isto representaria uma confrontação direta da OTAN com a Rússia, o que, como foi ressaltado, escorregaria para uma Terceira Guerra Mundial.

A hipótese foi imediatamente descartada pelo chanceler alemão, Olf Sholz, ao afirmar que não haveria tropas da OTAN dentro da Ucrânia. Falou em nome da Aliança Atlântica. Assim é que Putin já tinha uma resposta do Ocidente para a sua afirmação. Com o que seu pronunciamento acabou fazendo o que se costuma dizer, jogar para a torcida.

Como todo ditador, Putin tem que enfatizar os problemas externos para sufocar os internos. Internamente continua repercutindo a morte do ativista político Alexei Navalny. Mais um dos opositores que foi eliminado. Este, gradualmente, porque já havia sido envenenado, se recuperou, mas acabou morrendo à míngua na prisão.

A propósito, o funeral de Navalny aconteceu nesta sexta-feira, 1°, sob intenso controle policial. As imagens vindas de Moscou mostram um enorme contingente acompanhando o cortejo, muito embora as ameaças de que qualquer reunião não autorizada em homenagem a ele seria considerada uma violação da lei. Na hora do sepultamento, as pessoas diziam: “Você não teve medo, e nós também não teremos medo”, segundo relato da rede britânica BBC. Estas vozes, no entanto, acabam sendo minoritárias devido à severa repressão policial.

E o temor de acabar como os destacados opositores de Putin que vêm sendo eliminados, um a um. De repente, um cai da janela de um hospital, enquanto fazia uma visita. Outra cai de um penhasco enquanto fazia uma caminhada. Outro morre num Hotel em Nova Déli, enquanto viajava a negócios, e por aí afora.

A maior parte das figuras de expressão que foi eliminada seria de potenciais candidatos à presidência da república que têm sido tirados do caminho para que Putin vença tranquilamente a eleição marcada para o próximo dia 15 de março. Putin vai ser reeleito para mais um mandato de seis anos. Com o que ficará no poder até 2030, ocasião em que, pelas mudanças que ele providenciou na Constituição, poderá ser eleito para mais outro período de seis anos, perpetuando-se no poder.

Menos mal para Putin que a economia russa não está sentindo muito os efeitos das sanções impostas pelo Ocidente. O petróleo e o gás que ele deixou de vender para a Europa passou a fornecer para a China. E os negócios russos que foram bloqueados para se efetuarem em dólares, passaram a ser realizados em rublos ou em yuans. Assim aquele aspecto fundamental para detonar uma revolta, que é o bolso vazio do cidadão, não está acontecendo.

Já quanto à guerra na Ucrânia Putin continua com seu eufemismo de que se trata de uma operação militar especial. Com o que, ele chega a ter caradurice de dizer que não atacou ninguém e que a Rússia não é agressora, mas, vítima. Resta dizer que se as sanções não fizeram efeito na economia russa, os gastos militares estão fazendo. Uma boa parcela do PIB está sendo consumida na produção de armamentos. E hoje a Rússia já não tem mais o contingente de países integrantes da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas para dividir os gastos.


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