A ameaça que vem de Vladivostok

A ameaça que vem de Vladivostok

Assim é que Kim chegou a Vladivostok numa posição avantajada.

Jurandir Soares

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Um encontro marcante entre duas figuras controversas do cenário internacional em Vladivostok, no extremo Leste da Rússia. O presidente Vladimir Putin recebendo o seu colega ditador da Coreia do Norte, Kim Jong-un. A pauta, embora não divulgada, deixava logo antever que Putin busca comprar armas, enquanto Kim busca tecnologia para a área nuclear que está desenvolvendo. As negociações para a Rússia receber armas e munições começaram em 25 de julho, quando o ministro da Defesa, general Serguei Choigu, foi à Coreia do Norte, visitando feiras e depósitos de armas e munições e assinando uma série de acordos. Acredita-se que a compra será oficializada agora por ocasião da visita do norte-coreano. A Coreia do Norte acumulou esses armamentos ao longo do período que sucedeu o fim não oficial da guerra com a Coreia do Sul, em 1953. Esteve sempre se preparando para uma nova confrontação, o que significou estar se armando cada vez mais. E agora Kim tem um arsenal que é a menina dos olhos de Putin, tendo em vista o quanto a Rússia está perdendo em termos de armamentos na guerra com a Ucrânia. Só para se ter uma ideia, pesquisa do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos, sediado em Estocolmo, revela que a Rússia levaria oito anos para produzir a mesma quantidade de armas que já perdeu nesta guerra.

Assim é que Kim chegou a Vladivostok numa posição avantajada. Está certo que foi negociar a troca de armas convencionais por armas nucleares. Não propriamente armas, mas tecnologia. A diferença é que as primeiras Putin necessita para agora. E as outras Kim quer para reforçar seu arsenal, mais como forma dissuasiva. Para ceder esses materiais, Kim Jong-un, certamente, pedirá tecnologia para seus foguetes, veículos de reentrada e computadores para controle orbital de ogivas. A Coreia do Norte já fracassou duas vezes no lançamento de satélites espiões. Daí o fato de Putin e Kim terem ido até o cosmódromo de Vostochny, na remota região de Amur. É possível que seja mandado um submarino de propulsão nuclear, que esteja fora de uso, para os coreanos copiarem a tecnologia. Enfim, o que parece é que o norte-coreano, que vem desenvolvendo um intenso programa nuclear, chegou em posição confortável para negociar com Putin.

Já para o Ocidente e para o restante do mundo, o que se percebe é uma perigosa aliança que é feita entre dois líderes párias da política internacional. Basta atentar para uma das declarações feitas pelo norte-coreano durante uma das etapas da visita: “Temos apoiado sempre e continuares apoiando as decisões do presidente Putin e do governo russo. Espero estarmos sempre juntos na luta contra o imperialismo e pela construção de um estado soberano”. Assim, se a Rússia receber os armamentos, a guerra na Ucrânia tende a se estender por mais tempo. E se Kim receber a tecnologia nuclear, o perigo para o mundo aumenta.

Para amenizar, uma peculiaridade do ditador norte-coreano. É que ele só se desloca no seu trem blindado, que se arrasta a 50 ou 60 quilômetros por hora. Ou seja, levou praticamente um dia para percorrer os 1.200 quilômetros de Pyongyang a Vladivostok. A razão principal é a sua segurança. Ele não se atreve a viajar de avião com medo de o aparelho ser derrubado. Além do mais, suas viagens ao exterior se dão apenas para países próximos, como Rússia, China ou Vietnã. Segundo estudo feito pelo professor Ramón Pacheco, do King’s College de Londres, “é o trem mais chumbado do mundo”. Mas ali Kim Jong-un se sente seguro. Outra curiosidade, citada pela agência russa de notícias Tass: os assessores de Kim testavam todas as cadeiras onde ele iria sentar-se, devido ao sobrepeso de seu líder. O peso maior dele, no entanto, é o que incide sobre o mundo com suas armas nucleares.


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