A China e a contraofensiva ucraniana

A China e a contraofensiva ucraniana

Tratam-se, portanto, de grandes desafios.

Jurandir Soares

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Já há algum tempo que se vem falando que a Ucrânia estaria preparando uma contraofensiva na guerra que trava com a Rússia. Isto se daria pelo fato de as forças russas não conseguirem mais avançar em território ucraniano, vide a cidade de Kherson, que foi tomada pelos russos e retomada na maior parte pela Ucrânia, e também pelo fato de que o Ocidente está descarregando em massa armamentos pesados na Ucrânia. Esta operação estaria planejada para ser executada a partir deste domingo, 30, mas teria sido adiada para o fim da primavera ou início do verão no Hemisfério Norte, porque as condições climáticas são mais favoráveis.

A data de 30 de abril fora revelada por documentos secretos do Pentágono que foram descobertos. Contudo, o presidente Volodymyr Zelensky declarou que as forças ucranianas ainda não estavam devidamente equipadas para a operação. Vale lembrar que a Ucrânia está recebendo os modernos tanques Abrams, dos Estados Unidos, e Leopard 2, da Alemanha, além de outros equipamentos de outros países, mas que, os soldados ucranianos ainda precisam fazer treinamento para sua operacionalização. Este treinamento deve ser oferecido na Polônia, onde também está sendo montada uma oficina de reparo dos tanques. Da mesma forma é necessário o treinamento para operar os sistemas Patriot de defesa aérea.

Em função desses aspectos que, no início do mês, o primeiro-ministro ucraniano Denys Shmygal indicou que era previsível que a contraofensiva ocorresse durante o verão. Segundo a Euronews, os peritos ocidentais parecem inclinados a validar a posição do primeiro-ministro da Ucrânia: no final da primavera ou mesmo no início do verão. "Querem boas condições meteorológicas para que possam efetuar as operações de manobra ofensiva e proteger as suas próprias forças. Mas, também estarão buscando antecipar-se às tentativas russas de aprofundar e fortificar a sua própria posição. Por isso, estarão tentando equilibrar essas três coisas. E penso que o tipo de janela de oportunidade é dentro dos próximos um a dois meses. Portanto, abril, maio, ou até o início de junho," disse à Euronews Robert Cullum, especialista em Estudos de Defesa do King's College London. Mas, mesmo antes disso, não há dúvida de que as Forças Armadas ucranianas irão fazer o reconhecimento do campo de batalha, com operações de escala limitada, para identificar fraquezas na defesa russa.

As ações da contraofensiva ucraniana deverão se concentrar em direção ao Leste, para tentar retomar partes do Donbas que estão em poder dos russos, assim como para o Sul, na tentativa de retomada da Crimeia. Só para dimensionar as dificuldades pela frente, especialistas lembram que a rota mais curta em direção à Crimeia seria por Kherson. Mas, isto demandaria ter que atravessar o rio Dnipro, que tem cerca de um quilômetro de largura. E, neste caso, ficar como alvo fácil da artilharia russa.

Tratam-se, portanto, de grandes desafios. Até porque a Rússia, evidentemente, está esperando esta contraofensiva e se preparando para tal. Segundo os serviços secretos ocidentais, a Rússia já estaria construindo um sistema de defesa numa faixa ao longo de 800 quilômetros dentro do território ucraniano. Consistiria em quilômetros de valas antitanque, trincheiras, arame farpado, obstáculos de todo o tipo e postos de tiro fortificados. Há que considerar ainda que a Rússia dispõe de um razoável sistema aéreo, o que a Ucrânia não tem. A vantagem da Ucrânia vem pelas informações detalhadas das posições e ações russas que são fornecidas pelos sistemas de inteligência dos Estados Unidos. De qualquer forma, tudo é uma incógnita. Assim como a Ucrânia poderá avançar e alcançar seus objetivos, também poderá ser derrotada e ver a Rússia avançar ainda mais sobre seu território.

Em meio a essa incógnita vem mais uma vez a frágil luz da esperança de paz que é oferecida pela China. Lembra-se que o presidente chinês Xi Jinping elaborou um plano de doze pontos para a paz. O Ocidente, de modo geral, descartou a proposta, porém, o presidente Zelensky sempre mostrou interesse na mesma. Nesta quarta-feira, Zelensky anunciou a designação de um novo embaixador em Pequim, cargo que estava vago desde 2021, e Xi ficou de mandar um emissário a Kiev para negociar. Um ponto fundamental da proposta de paz chinesa e que foi referendado na conversa de mais de uma hora entre Xi e Zelensky, é que contempla a integridade territorial da Ucrânia, inclusive a Crimeia. Ou seja, é tudo que Zelensky quer: parar a guerra e recuperar a integridade territorial do país. O “pequeno” detalhe que falta é, Vladimir Putin aceitar a proposta. Irá querer, no mínimo, uma compensação.


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