A difícil salvação do planeta

A difícil salvação do planeta

Conferência busca mobilizar os países pelo limite de temperatura global a 1,5ºC

Jurandir Soares

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O mundo está reunido em Glasgow, na Escócia, na Conferência da ONU sobre o clima, a COP26, com um objetivo específico: evitar que até 2050 haja um aumento de temperatura superior a 1,5ºC com relação à temperatura global do período de início da era industrial. Para alcançar este objetivo é necessário um compromisso dos 191 países que integram a organização internacional. Por aí já se pode dimensionar a dificuldade para alcançar a meta, ainda mais envolvendo grandes potências poluidoras como China, Estados Unidos, Índia e Rússia, só para citar algumas.

O que está sendo discutido ao longo desses dez dias do encontro não é tema novo. Pelo contrário. Lá em 1992, fiz a cobertura para o Correio do Povo e para a Rádio Guaíba da Rio Eco-92, que reuniu os chefes de governo ou de Estado de quase todo o mundo. O final do encontro foi apoteótico, com o anúncio de um grande compromisso firmado por todos os presentes. Em função disso, a manchete que escrevi para o Correio do Povo foi: “Começou a faxina do planeta”. Pois vejam que já se passaram quase 30 anos e o planeta segue cada vez mais sujo. Os agentes poluidores são cada vez mais intensos e mais reticentes em mudar seus sistemas. Afinal, gerar energia hoje significa ganhar muito dinheiro. Basta ver o que eram as monarquias do Golfo anos atrás e o que são hoje. Naquela época limitavam-se a produzir pérolas e criar gaviões. Porém, depois que descobriram o petróleo passaram a nadar em petrodólares. E este petróleo é hoje um dos grandes vilões do aquecimento global.

O carro elétrico surge como a alternativa ao combustível fóssil, porém, consome energia, o que demandará maior produção, num desafio para países como o Brasil, que tem sofrido com a escassez de suas fontes hídricas, tendo dificuldades para atender a demanda já existente. Já países como Alemanha e outros da Europa são totalmente dependentes do gás que vem da Rússia. Além disso, teremos outro problema: o descarte dessas baterias. Ou seja, evitamos poluição por um lado, mas geramos outra, talvez até pior, por outro lado. Na Europa, segundo informou nesta sexta-feira a Euronews, até o Mar Báltico está desaparecendo. “As águas abaixo dos 80 metros já são consideradas zonas mortas, uma vez que a quantidade de oxigênio não é suficiente para os organismos vivos. Por causa das alterações climáticas.”

Já nós, aqui no Brasil, que nos comprometemos a reduzir em 30% as emissões de gás metano até 2030, em comparação com 2020, temos os desafios de preservar a Amazônia e aprimorar a agropecuária, dentro dos parâmetros de conservação ambiental. Teoricamente, simples. Para a Amazônia, evitar os incêndios e a derrubada clandestina de mata. Para a agropecuária, aumentar a produtividade por hectare e transformar a alimentação do gado, de modo a diminuir as suas flatulências. Na prática, isto demanda tempo, recursos e vontade política. Enfim, ao final do encontro de Glasgow vamos ter outra declaração entusiasmada, como já tivemos no Rio em 1992 e em Paris em 2015. O difícil vai ser implementar o que for acordado.


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