A estratégia militar de Israel

A estratégia militar de Israel

O detalhe é que junto, só no primeiro dia morreram 50 civis.

Jurandir Soares

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Depois de 24 dias de mortandades na guerra que travam Israel e Hamas, surgiu uma ação humanitária com a abertura da passagem da Faixa de Gaza para a cidade egípcia de Rafah. Local por onde também começou a chegar a ajuda humanitária aos mais de 2 milhões de palestinos que estão confinados naquela pequena faixa de terra, onde o grupo terrorista impôs o seu cruel domínio. Nunca é demais repetir que o grupo fez da população, para usar uma expressão antiga, bucha de canhão. E o pior é que misturando-se a essa multidão leva Israel a um desatino: ter que caçá-los matando ao mesmo tempo um elevado número de civis palestinos. Algo que gera um questionamento sobre a tática empregada pelos israelenses nessas ações.

Eu volto a este tema delicado que provoca tantas controvérsias e até mesmo acusações de antissemitismo. Referendo o que já disse em ocasiões anteriores, ou seja, que tenho o mais profundo respeito pelo Estado de Israel, país que já visitei por três vezes e onde tenho amigos, inclusive na Universidade Hebraica de Jerusalém. Um país que transformou o deserto em área produtiva. Que se tornou referência internacional em tecnologia. E que pode ser um extraordinário parceiro para o crescimento da região, se avançarem os acordos com os países árabes, sufocados agora pela ação do Hamas. No entanto, o que chama a atenção do mundo é o fato de Israel não ter traçado ainda uma estratégia para caçar o Hamas sem que tenha que causar tantas vítimas entre os civis palestinos. Estamos vendo agora o segundo dia consecutivo de bombardeio ao campo de refugiados de Jabalia. Segundo o governo israelense, vários líderes terroristas teriam sido abatidos ali. O detalhe é que junto, só no primeiro dia morreram 50 civis. E no segundo dia teria sido um número bem maior.

Conforme escreveu no jornal espanhol El País Lluís Bassets, “a reação de Israel é de um sentimento de vingança, e não de uma estratégia militar específica para parar o inimigo”. Surpreende que Israel, com todo seu avanço tecnológico, não tenha traçado uma estratégia específica para enfrentar o Hamas, diante da determinação do grupo terrorista de se manter entre a população civil. Afinal, esta não é a primeira confrontação entre ambos. Israel e os movimentos palestinos Hamas e Jihad Islâmica já se enfrentaram em cinco guerras na Faixa de Gaza desde 2008. Em todas as ocasiões Israel se viu obrigado a bombardear Gaza na caça aos terroristas, com as consequentes mortes de civis palestinos. Com a repetição da mesma tática em Gaza, Israel só retroalimenta o ódio contra si naquela área, assim como em boa parcela dos países árabes, além de outras partes do mundo. Israel viu nos últimos tempos o Hamas construir túneis e se armar tão fortemente, a ponto de lançar foguetes sobre as principais cidades israelenses, e não fez nada para evitar isto.

Ao não traçar nenhuma estratégia militar diferente das já usadas em cinco outras ocasiões, Israel se vê obrigado a causar a morte de crescente número de palestinos. Com isto causa comoção no mundo e faz balançar até o apoio do seu maior aliado, Estados Unidos. O presidente Joe Biden está em meio a enorme pressão de seu Partido Democrata, assim como do Conselho Nacional Muçulmano Democrata, que inclui líderes do partido em três estados que podem decidir as eleições, como Ohio, Michigan e Pensilvânia.

Todos cobram a sua influência para que consiga, pelo menos, um cessar-fogo. Algo que, a estas alturas, viria se somar à decisão humanitária do Egito de abrir sua fronteira em Rafah e montar ali um hospital de campanha. Sopros de esperança em meio à tragédia que se estabeleceu na região a partir de 7 de outubro. 


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