A guerra está cansando

A guerra está cansando

Zelensky na ONU: Alerta Global sobre o Perigo Nuclear Russo e Desafios Crescentes para a Ucrânia

Jurandir Soares

publicidade

O presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, aproveitou o plenário da Assembleia Geral da ONU, na quarta-feira, para alertar o mundo sobre o perigo de a Rússia vir a usar armas nucleares, ressaltando que até os alimentos o presidente Vladimir Putin está usando como arma. A primeira ameaça refere-se às múltiplas declarações, não só de Putin, mas também de outras autoridades russas sobre a possibilidade de “se verem obrigados ao uso de artefatos nucleares”, conforme disse outro dia o ex-primeiro-ministro Dmitri Medvedev. A segunda, refere-se à retenção nas exportações de cereais, para alguns países, que a Rússia tem feito em decorrência das sanções que sofre. Depois de seu pronunciamento, Zelensky foi a Washington encontrar-se com o presidente americano, Joe Biden, e, logicamente, pedir mais armamentos. Recebeu a promessa de mais armas de defesa antiaérea para a Ucrânia, juntando-se aos tanques M1 Abrams que Kiev deve receber em breve. Porém, não teria recebido os mísseis de longo alcance que foi pedir.

Segundo o assessor de Segurança Nacional, Jack Sullivan, o presidente Biden segue decidido a não fornecê-los, embora não descarte a possibilidade de o fazer no futuro.

O fato é que Zelensky já não foi recebido com o mesmo entusiasmo de outras vezes. Tendo inclusive recebido um alerta de Biden de que, se os republicanos ganharem a próxima eleição presidencial, os envios de armas para a Ucrânia cessarão. Acontece que os EUA já forneceram 100 bilhões de dólares em ajuda à Ucrânia desde que a guerra começou, em 24 de fevereiro de 2022. Desse montante, 43 bilhões de dólares foram em armamentos. E há uma crescente pressão dos republicanos no sentido de parar com essa ajuda, porque ela está impactando na economia dos Estados Unidos, aumentando o déficit do governo e fomentando a inflação. Com o que o país tem que manter os juros num patamar muito alto. Hoje giram entre 5,25% e 5,50% ao ano, algo muito elevado para os padrões americanos. Há também uma demonstração de cansaço com a guerra por parte dos europeus que, igualmente, estão destinando bilhões de euros em ajuda humanitária e em armamentos à Ucrânia.

Outro golpe que Zelensky está sentindo é de um vizinho e aliado de primeira hora, a Polônia. País que tem dado enorme respaldo a Kiev, tanto em armamentos, treinamento de especialistas em armas e aviões, como em ajuda humanitária e na recepção de mais de um milhão de ucranianos – principalmente, mulheres e crianças – fugidos da guerra. Pois agora a Polônia está em meio a debates com vistas às eleições de 15 de outubro e, diante de interesses internos, acabou cancelando a compra de grãos provenientes da Ucrânia. Uma forma de atender os produtores locais. Porém, o que está prevalecendo é a ideia de que o país tem que pensar em si e se armar. Algo que já está acontecendo. O plano anunciado nesta semana pelo primeiro-ministro Andrzej Duda é dotar a Polônia do maior exército terrestre da Europa até 2026. Na real, já começou a investir nisso desde 2020. Segundo informações das agências de notícias, já tem encomendas, entre anúncios e papéis assinados, de 43,1 bilhões de dólares dos EUA. Neste ano, os primeiros caças de quinta geração F-35, de um lote de 32, devem chegar ao país. Todo este poderio bélico tem como alvo principal proteger-se da Rússia. O que agrada aos EUA. Trocar os velhos armamentos dos tempos da União Soviética por modernos armamentos americanos. Porém, poderia estar implícito também o que Putin denunciou, ou seja, que a Polônia tem interesse na parte Oeste da Ucrânia. Ou seja, mais incertezas para o futuro.

No que toca ao presente, como um alento de esperança para Zelensky, fica a declaração de Biden ao ocupar o plenário da ONU: “A Rússia acredita que o mundo se cansará e lhe permitirá brutalizar a Ucrânia sem consequências. Porém, eu pergunto o seguinte: se abandonarmos os princípios básicos da Carta das Nações Unidas para aliviar um agressor, pode algum Estado membro sentir-se seguro de que está protegido?”. A rigor, uma proteção para a Ucrânia, mas tudo é muito relativo. O próprio EUA violou esta Carta ao invadir o Iraque em nome de uma mentira, as tais armas de destruição em massa que nunca existiram. E não aconteceu nada. O que se constata é que a Carta das Nações Unidas funciona de acordo com o poder do seu signatário. Em meio a tudo isto, a dura realidade para a Ucrânia é a nova campanha iniciada pela Rússia de bombardear suas centrais de distribuição de energia elétrica. Os ucranianos sentem que, na medida em que o inverno se aproxima, o país corre o risco de ficar mais uma vez às escuras.


Mais Lidas

Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895