A Guerra só se amplia

A Guerra só se amplia

Confronto entre Israel e Hamas já dura 100 dias e não há indícios de que um acordo de paz seja assinado logo. Outros grupos radicais começaram a se junta ao Hamas

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A guerra que Israel lançou contra o Hamas após os cruéis atentados de 7 de outubro completou 100 dias e segue não só sem uma definição, como com sua ampliação. Grupos terroristas parceiros do Hamas passaram também a atuar, como o Hezbollah, a partir do Sul do Líbano, e os houthis, a partir do Iêmen. As consequências de tudo isso são terríveis.

A primeira dessas consequências foi para os cerca de 1.200 israelenses que foram trucidados pelo Hamas, soma-se a isto os 136 reféns que ainda permanecem em mãos dos terroristas, sabe-se lá em que condições. Se é que ainda estão vivos. Ainda pelo lado de Israel, tem quase duas centenas de soldados que perderam a vida nos combates, sem contar outras mortes e os estragos provocados pelos foguetes lançados contra seu território.

Maior é a desgraça que o Hamas levou para a população da Faixa de Gaza, expondo-a às bombas lançadas pelas forças israelenses em sua incursão no território. Mais de dois milhões de palestinos se viram obrigados a deixar seus lares para fugir das bombas, que têm colocado prédios inteiros abaixo. Só que um por cento dessa população, ou seja, cerca de 20 mil, já morreu em decorrência do conflito. O restante, tenta sobreviver fugindo de um lugar para outro, enfrentando a falta de alimentos, de medicamentos, de água e, pior, a falta de um lugar protegido para sobreviver.

Não tem sido fácil igualmente para a população do Norte de Israel. Várias cidades da região tiveram que ser evacuadas, pois se tornaram alvo dos foguetes do Hezbollah. Aliás, o líder do grupo, xeque Hassan Nasrallah, se orgulha de dizer que sua organização é melhor aparelhada que o Hamas e possui cerca de 200 mil foguetes. Israel já travou, em 2006, uma guerra contra esse grupo terrorista que no Líbano funciona como partido político. Uma guerra cujo final foi considerado um empate.

Uma nova guerra agora poderia levar a população do Líbano a uma mortandade semelhante à que sofrem os palestinos da Faixa de Gaza. O governo de Benyamin Netanyahu entende que, assim como os palestinos de Gaza dão guarida ao Hamas, os libaneses também acolhem o Hezbollah. Daí sofrerem as consequências conjuntamente. O problema é que ambas as populações são vítimas do domínio desses grupos terroristas. É o mesmo que ocorre nas favelas brasileiras. A população trabalhadora, que ganha sua vida honestamente, se torna vítima das gangues do narcotráfico que impõem seu domínio. E aí, fazendo uma analogia, não cabe à polícia invadir a favela e sair matando todo mundo que encontra pela frente na caça aos traficantes.

A população é refém de seus dominadores. E é esta a contestação que tem sido feita a Israel com relação à sua atuação em Gaza. Uma contestação feita até pelo governo dos Estados Unidos, o maior aliado de Israel. Por mais que seja justificada a caça ao Hamas, torna-se triste ver tantos civis morrendo. Crianças, mulheres, velhos, sendo vítimas dos bombardeios. Assim como tem sido muito difícil para os familiares dos israelenses massacrados pelo Hamas. Ou para os familiares que esperam por notícias dos sequestrados. Também choca ao observador ver a imagem de um pai palestino carregando nos braços o corpo do filho menino morto. Aliás, esta analogia que tem sido feita pelo governo de Joe Biden poderia ter sido seguida pelo governo de Lula da Silva, o qual embarcou na canoa da África do Sul para acusar Israel de genocídio, criando, desnecessariamente, um incidente diplomático com um importante parceiro do Brasil.

Há que se contextualizar ainda na extensão da guerra o perigo que passou a representar a navegação comercial pelo Mar Vermelho, lugar de passagem de 15% do comércio internacional. Uma navegação que já foi reduzida em 40%, o que obrigou Estados Unidos e o Reino Unido a mobilizar suas forças para bombardear as instalações dos responsáveis pelos atos, ou seja, os houthis. Mais um grupo terrorista mantido pelo Irã.

Os houthis, liderados por Abdul-Malik al-Houthi, são um grupo de rebeldes xiitas apoiados pelo Irã que lutam contra o governo do Iêmen há cerca de duas décadas e agora controlam o Noroeste do país e sua capital, Sana. Os sunitas, que controlam a outra parte do país, são apoiados pela Arábia Saudita. Na sexta-feira e no sábado passados os Estados Unidos bombardearam as instalações dos houthis, sendo que estes deram o troco nesta segunda-feira, atingindo um navio mercante americano com um míssil e declararam guerra a todas as embarcações de Washington no Mar Vermelho. É impressionante a imagem do cargueiro, lotado de contêineres, pegando fogo. Assim é que, ao invés de acabar, a guerra se amplia.


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