A mensagem de Putin

A mensagem de Putin

Putin quis passar uma mensagem aos dissidentes em alto e bom som.

Jurandir Soares

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O assassinato do líder do grupo mercenário Wagner, Yevgueni Prigozhin, pela forma espetaculosa com que foi feito, é parte de um recado que o presidente russo, Vladimir Putin, quer passar para o mundo. Afinal, até agora os extermínios de figuras importantes eram feitos de modo mais discreto. Com injeção de veneno ou em “acidente” com queda através de uma janela do sexto andar de um prédio, ou ainda com queda de uma escada em um edifício em construção, entre tantas outras formas. Afinal, desde que Putin iniciou a guerra contra a Ucrânia, a 24 de fevereiro de 2022, foram mais de 20 mortes misteriosas de figuras importantes. Tanto do alto comando militar como do poderoso empresariado. Todos eles que de alguma forma contestavam a guerra ou a autoridade de Putin. A morte de Prigozhin, no entanto, com a derrubada de seu avião, foi um espetáculo para chamar a atenção.

Então, a pergunta é por que ele resolveu mudar de tática, abatendo um avião no corredor aéreo mais movimentado do país, que é o que liga Moscou a São Petersburgo. Putin quis passar uma mensagem aos dissidentes em alto e bom som. A de que ele está agarrado ao poder e que ninguém conseguirá tirá-lo de lá. Nem mesmo alguém como Prigozhin que tinha um exército de mercenários de 25 mil homens em suas mãos. Um homem temido e ao mesmo tempo admirado no país. Outro detalhe importante na explosão do avião é que junto com Prigozhin morreram o primeiro e o segundo na linha de sucessão do grupo Wagner. O imediato de Prigozhin era Dmitri Utkin, um ex-comandante do serviço de inteligência do exército. Um homem que nunca aparecia em público. O seu “nome de guerra” era Wagner, daí o nome que foi dado ao grupo mercenário. O segundo na linha de sucessão, que também estava no voo, era Valery Chekálov, apelidado de Rover. Como Prigozhin, seus dois imediatos tinham grandes negócios, através de empresas que se interligavam. Ou seja, todos eram milionários. E não se pode esquecer, conforme escrevi na coluna de quinta-feira, 24, que foi Putin quem propiciou a riqueza de Prigozhin. E, por extensão, dos outros dois.

Com a eliminação dos três, praticamente, fica inviabilizada uma reação do grupo mercenário contra Putin. Talvez este fato de buscar exterminar com todo o comando do grupo Wagner de uma só vez justifique o tempo de dois meses que Putin levou para eliminar Prigozhin, contando a partir da frustrada tentativa dos mercenários de atacar Moscou, para tirar o ministro da Defesa e o comandante das Forças Armadas. Aliás, depois desse episódio, Prigozhin voltou-se mais uma vez para a África, de onde, inclusive, gravou o seu último vídeo. Voltara-se para os milionários contratos lá conseguidos para dar proteção aos ditadores na exploração de minas. Como vem sendo feito na República Centro-Africana, onde desde 2017 o grupo dá proteção ao ditador Faustin-Archange Touadéra na exploração das minas de ouro e de diamantes. Trabalho semelhante o grupo tem feito no Mali, Sudão, Líbia e, mais recentemente, para o regime golpista do Níger. Com isto é possível que surja uma liderança no grupo, para que continue com esse trabalho. E isto seria do interesse do próprio Putin, que agora quer ver o grupo longe, porém, ao mesmo tempo quer estender sua influência na África. Uma influência que, diga-se de passagem, vem crescendo nos últimos tempos.

Assim, diante da derrubada do avião, a mensagem que Putin passa é a de que, se foi capaz de eliminar à luz do dia um dos homens mais ricos e poderosos da Rússia, fará o mesmo com quem quer que se atravessar na sua frente. Quis mostrar que ele é o dono da Rússia. O que busca é, através do medo, fortalecer o seu regime, o qual, em decorrência, se torna cada vez mais fechado, repressivo e ditatorial.


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