A perigosa aliança China-Rússia

A perigosa aliança China-Rússia

Xi Jinping e Vladimir Putin irão se encontrar para discutir uma possível paz para a guerra na Ucrânia

Jurandir Soares

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O presidente chinês Xi Jinping irá nesta segunda-feira a Moscou para encontrar-se com seu homólogo Vladimir Putin, para discutir, conforme abordamos na coluna de quinta-feira, uma possível paz para a guerra na Ucrânia. Fica na Rússia até quarta-feira, quando irá para Kiev para encontrar-se com Volodymyr Zelensky. Porém, outro aspecto que ele vai discutir com Putin, e que não abordamos na ocasião, é uma possível aliança entre as duas grandes potências mundiais. Vale lembrar que, pouco antes de deflagrar a guerra contra a Ucrânia, Putin esteve em Pequim, num encontro com Xi Jinping quando, ao final da reunião, emitiram uma declaração de “amizade sem limites”. “Nossas relações bilaterais progrediram em um espírito de amizade e de associação estratégica. São relações realmente sem precedentes”, disse Putin na ocasião. Esta viagem de Xi será a primeira ao exterior desde que garantiu um terceiro mandato como presidente da China. Também será a primeira vez, desde que a Rússia invadiu a Ucrânia no ano passado, que Xi visitará Putin, o homem que ele descreveu anteriormente como seu “melhor amigo”.

E a possível aliança China-Rússia que irão discutir será, logicamente, para confrontar-se com os Estados Unidos. A Rússia sente-se ameaçada pelos norte-americanos por duas questões. Uma, pela expansão da Otan para o Leste europeu, englobando países que antes de 1991 faziam parte da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. O que, aliás, foi o motivo da invasão da Ucrânia, que estava prestes a entrar na Otan, o que significaria as forças da organização estarem junto à fronteira russa. Outra, a intenção dos EUA e seus parceiros do Ocidente de manter a guerra na Ucrânia, aumentando o fornecimento de armas ao país, para que a Rússia vá se desgastando cada vez mais com o conflito. A China, de sua parte, vê a sua expansão no Indo Pacífico ser contida pela mobilização das tropas norte-americanas na região e estratégias de parcerias que os EUA vêm desenvolvendo. Assim como vê a “intromissão” norte-americana em sua pretensão de incorporar Taiwan ao seu território.

Já as estratégias dos EUA para um enfraquecimento da China vêm sendo implementadas há algum tempo. Em dezembro de 2021, anunciaram o fornecimento a Taiwan de tecnologia chave para a produção de submarinos movidos a propulsão nuclear, incluindo sonares e componentes de sistemas de combate. Uma investigação da agência de notícias Reuters descobriu que Taipé vem discretamente adquirindo tecnologia, componentes e expertise de pelo menos sete países para ajudá-la a formar uma frota de submarinos, com o potencial de provocar danos sérios a seus adversários no caso de um ataque da China. E nesta terça-feira, 13, a Austrália anunciou que irá comprar dos EUA três submarinos de propulsão nuclear e, possivelmente, outros dois e irá fabricar um novo modelo, com tecnologia americana e britânica, em um projeto ambicioso para fortalecer o Ocidente na região Ásia-Pacífico. O presidente Joe Biden foi à base naval de San Diego para, à frente do submarino USS Missouri, de 115 metros, anunciar seu programa de parceria para conter o expansionismo chinês. E isto vem na extensão de um relacionamento com a China que se tornou mais tenso nos últimos dias em função de derrubada por caças norte-americanos de um balão chinês, dito por Pequim como sendo de observações meteorológicas e por Washington como sendo de espionagem. Aliás, divergência semelhante com o ocorrido nesta semana com o drone dos EUA derrubado por caças russos sobre o Mar Negro. Washington disse que era de vigilância. Moscou disse que era de espionagem.

Diante deste quadro torna-se cada vez mais claro que os Estados Unidos se constituem no grande obstáculo às pretensões tanto da China quanto da Rússia. O que significa que, se Xi Jinping, nos contatos com Putin e Zelensky, conseguir o marcante feito de um acordo para pôr fim à guerra, boa parte da tensão mundial se acalmará. E pode-se dizer ainda de passagem que o líder chinês, apesar de ser um grande carrasco com seu povo, se habilitará ao Prêmio Nobel da Paz. Porém, com certeza, antes de ir para Kiev, Xi deverá ter deixado acertado com Putin que, no caso de fracasso nas negociações, a China irá fazer para com a Rússia o mesmo que o Ocidente está fazendo para com a Ucrânia, ou seja, fornecer armamentos. Com o que, se terá um altamente perigoso incremento na guerra, com o alto risco de escorregar para um conflito generalizado entre os envolvidos.


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