A reeleição de Putin e a ameaça global

A reeleição de Putin e a ameaça global

Com o respaldo que recebeu no fim de semana fica cada vez mais claro que o presidente russo não vai parar

Correio do Povo

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Vladimir Putin saiu reforçado da eleição deste final de semana na Rússia, por mais fictícia que tenha sido. Ele tem conseguido mover os assuntos internos de seu país com tamanha astúcia e uso da censura, que a maior parte da população o apoia. Não fosse assim não se veriam as enormes filas para votação que se formaram em Moscou e outras grandes cidades do país. A astúcia de Putin é tanta que ele realizou eleições até mesmo nos territórios recentemente tomados da Ucrânia, como a Crimeia e a província do Donbas. Tudo isto antecedido de novas ameaças de uso de armas nucleares, conforme fez na sexta-feira, 15, e sucedido de uma declaração feita logo após o anúncio de sua reeleição, dizendo que “nossos planos são grandiosos”.

Grandiosa tem sido a ambição de Putin, um saudoso da União das Repúblicas Socialistas da União Soviética. Seu objetivo, que tem ficado explícito em suas intenções, é restaurar o domínio de Moscou sobre seus vizinhos. A invasão da Ucrânia nada mais é do que um importante passo nesse sentido. Evitar que o país passe para a órbita ocidental, filiando-se à União Europeia ou à OTAN. Vale lembrar que ele chegou a ter a Ucrânia sob seu controle quando esta foi governada por Víktor Fédorovytch Ianukóvytch. Ele foi presidente da Ucrânia de 25 de fevereiro de 2010 até 22 de fevereiro de 2014, quando foi deposto, após 93 dias de intensos protestos populares contra sua aproximação com a Rússia. Desde então Putin manteve o país vizinho na alça de sua mira.

Destino diferente teve outro vizinho da região, a Belarus. Nesse país, que também fazia parte da URSS, foi igualmente iniciado um movimento de passagem para a órbita do Ocidente. Ao longo da década de 2010 a 2020 múltiplas manifestações foram realizadas contra Aleksandr Lukashenko, o líder autoritário, que governa a Belarus com mão de ferro desde 1994, reelegendo-se sucessivamente, apesar das enormes suspeitas de fraude. Em inúmeras vezes as ruas da capital e de outras cidades reuniram uma maré humana exigindo sua renúncia, nas maiores mobilizações da história de Belarus. Enfraquecido, o líder bielo-russo recorreu ao presidente russo, do qual recebeu o apoio necessário para sufocar um movimento que já tinha criado até uma bandeira nova para o país, buscando abandonar a dos tempos soviéticos. Com o apoio de Putin o movimento rebelde foi sufocado e o russo levou para sua área de influência um vizinho importante, sem precisar disparar um tiro.

Com o respaldo que recebeu neste fim de semana fica cada vez mais claro que Putin não vai parar. E, com isto, estabelece um grande desafio para a OTAN. Uma derrota da Ucrânia na guerra contra a Rússia, que se configura cada vez mais próxima, será uma derrota do Ocidente. Aliás, isto já foi dito até pelo secretário geral da OTAN, Jens Stoltenberg. O detalhe é que a organização atlântica tem buscado dar apoio bélico e logístico para a Ucrânia, mas sem envolver-se diretamente no conflito. Como com esta estratégia os resultados não estão sendo alcançados, surgem as manifestações no sentido de um envolvimento mais direto. A primeira manifestação veio do presidente francês, Emmanuel Macron, ao cogitar o envio de tropas para lutar ao lado das ucranianas. Putin saltou logo, dizendo que isto representaria uma guerra direta da Europa contra a Rússia. Apesar da advertência russa, a proposta de Macron parece estar ganhando adeptos. E mais: confirmações de que já há presença de soldados da Aliança Atlântica na Ucrânia. A confirmação partiu do ministro das Relações Exteriores da Polônia, Radoslaw Sikorski. “Já há soldados da OTAN na Ucrânia e quero agradecer às embaixadas que assumiram este risco. A diferença de outros políticos, não vou dizer que países são”, assegurou o chanceler em entrevista à AFP. A crítica era para o premiê alemão, Olaf Scholz, que em finais de fevereiro revelou a presença de tropas britânicas e francesas na Ucrânia. O porta-voz do Pentágono, Pat Ryder, disse que desde outubro de 2022 os EUA mantêm militares na Ucrânia para tarefas de orientação e supervisão.

Diante deste quadro, a tendência será um envolvimento cada vez maior da OTAN para poder reverter o atual quadro de avanço russo na Ucrânia. Até porque os próximos passos de Putin podem ser a repúblicas do Báltico, Letônia, Estônia e Lituânia, assim como a Polônia. Ou seja, o perigo de uma confrontação maior está no ar. Especialmente depois do reforço recebido por Putin neste fim de semana passado e de seus avanços na guerra com a Ucrânia.


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