Africanos como mediadores da guerra

Africanos como mediadores da guerra

O que moveu esses dirigentes a tomar essa iniciativa se deve às agruras pelas quais a África está passando em decorrência da guerra.

Jurandir Soares

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A guerra na Ucrânia está tendo nos bastidores dois movimentos distintos. Um em favor da paz, outro impulsionando a guerra. No primeiro caso, um impensável grupo de países africanos resolveu se lançar na audaciosa missão de encontrar a paz para a guerra que a Rússia trava na Ucrânia e que no próximo sábado completa dezesseis meses. Uma delegação viajou a Kiev, para se encontrar com o ucraniano Volodimir Zelensky, e dali vai para São Petersburgo para dialogar com o russo Vladimir Putin. A missão, que diz levar uma proposta diferente da apresentada pela China, é composta pelos chefes de Estado de Camarões, Azali Assoumani, que também é o presidente da União Africana, da África do Sul, Cyril Ramaphosa, do Senegal, Macky Sali, e de Zâmbia Hakainde Hichilema, assim como o primeiro-ministro do Egito, Mustafa Mabduli, e o chanceler de Uganda, Yoweri Museveni, que representa o presidente Yoweri Museveni, que está enfermo.

O que moveu esses dirigentes a tomar essa iniciativa se deve às agruras pelas quais a África está passando em decorrência da guerra. O continente ficou sem os alimentos e energia que recebia dos países em guerra. Isto, justo num momento em que buscava se recuperar dos estragos provocados pela pandemia de Covid. Segundo a ONU, em mais da metade dos países africanos a inflação superou os dois dígitos Como se observa, é uma comissão sem maior representatividade, a não ser no âmbito regional. Porém, está pesando a seu favor as boas relações com ambos os contendores. É lógico que tem-se que depositar um voto de esperança na mediação dos africanos. Todavia, não se pode esquecer aquela máxima do Barão de Itararé: “De onde menos se espera, dali é que não sai nada mesmo”.

Já o movimento favorecendo a ampliação da guerra ficou a cargo da Alemanha, que anunciou nesta quarta-feira a primeira Estratégia de Segurança Nacional de sua história. O texto coloca a Rússia como a maior ameaça à segurança europeia. O primeiro-ministro, Olaf Scholz, prometeu gastar, a partir de 2024, 2% do PIB em armamentos. “Esta é uma grande mudança em como lidamos com a política de segurança”, disse Scholz, que desde que assumiu, no final de 2021 enfrenta acusações de prometer muito e entregar pouco, em especial na ajuda militar a Kiev. Porém, anunciou também o envio de mais armas para a Ucrânia e o que foi mais surpreendente: contrariando o que afirmara ao longo dos últimos tempos, cogitou a entrada da Ucrânia na OTAN. Isto acontecendo, seria a ampliação total da guerra, com os 28 países que integram a organização lutando contra a Rússia e com todas suas graves consequências. O fato é que não dá, nem para confiar no êxito da ação mediadora dos africanos, tampouco no fato de a OTAN vir aceitar a Ucrânia como membro enquanto estiver em guerra com a Rússia.


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