Aliança russo-chinesa e Macron

Aliança russo-chinesa e Macron

Presidente francês coloca um facho de luz no escuro cenário em torno da Ucrânia

Jurandir Soares

publicidade

A autocracia russa e a ditadura comunista acertaram uma aliança para se opor às pretensões dos EUA e da Otan no Leste europeu e no mar Indo Pacífico. E isto se deu por ocasião da abertura dos Jogos de Inverno em Pequim, cuja principal presença, afora o anfitrião Xi Jinping, foi o presidente russo, Vladimir Putin. Em um texto de 5.300 palavras foi ressaltada pela China a “amizade sem fim com a Rússia” e por Moscou a “amizade sem precedentes” entre os dois países.

Ficou claro o apoio da China à posição da Rússia contra a inclusão da Ucrânia na Otan, assim como o apoio da Rússia à Guerra 2.0 que a China trava com os Estados Unidos. Esta já causou conflitos diversos com os EUA: guerra comercial e tarifária, além de disputa sobre a autonomia de Hong Kong, provocações nas rotas marítimas que Pequim considera suas e a ameaça da China de tomar Taiwan. Ambos os líderes declararam esforços conjuntos contra “revoluções coloridas”, o nome genérico de assimilação midiática fácil àquilo que Moscou chama de golpes para derrubar governos pró-Kremlin na antiga periferia soviética. É o caso da “revolução laranja”, que foi realizada na Ucrânia e que resultou na deposição do presidente pró-Rússia Viktor Yanukovich. Ou seja, Putin e Jinping fizeram uso daquela máxima: o inimigo do meu inimigo deve ser meu amigo.

No terreno bélico, a Rússia segue com suas manobras militares, já tendo cercado a Ucrânia por todos os lados. No Sul, pelo Mar Negro, e a Crimeia a Leste pelos mais de 100 mil soldados concentrados ali. Pelo Norte com manobras conjuntas com a Belarus e a Oeste com a nova frente criada junto à Moldova. Todavia, o presidente francês, Emmanuel Macron, acaba de colocar um facho de luz no escuro cenário bélico que se estabeleceu em torno da Ucrânia. Depois de encontrar-se em Moscou com o Putin e em Kiev com o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, Macron anunciou que a solução para o conflito são os chamados “Acordos de Minsk”, firmados em 2014. O documento prevê que as áreas dominadas há oito anos por separatistas pró-Rússia, na região do Donbass, fiquem com a Ucrânia, mas com um status autônomo. Com isto, a Ucrânia não poderia entrar para a Otan, porque a organização não aceita membros que tenham disputa territorial de tal magnitude.

Para a Ucrânia, que viu a Rússia retirar-lhe a província da Crimeia, a autonomia não seria algo tão ruim. Afinal, a Espanha, por exemplo, convive com as regiões autônomas da Catalunha, Galícia, País Basco, etc. Não ficou claro se o presidente ucraniano aceitou a proposta. Porém, para o país talvez seja dos males o menor, pois evitaria a guerra que se desenha. Não se pode descartar, no entanto, que mais adiante a Rússia venha a ocupar a área. Entretanto, aí estaria caracterizada a invasão, que é algo que os negociadores estão tentando evitar agora. Mas, enfim, o fato é que na ausência da competente Angela Merkel e diante da cambaleante liderança de Boris Johnson, Macron se arvorou como o negociador europeu. E poderá se consagrar se evitar a guerra.


Mais Lidas

Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895