Alianças e tensão na Ásia

Alianças e tensão na Ásia

O objetivo, logicamente, sedimentar uma aliança contra os inimigos da Ásia.

Jurandir Soares

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Japão e Coreia são inimigos históricos. De 1910 a 1950, a então unificada Coreia esteve sob o domínio japonês. Um terrível domínio, com exploração de toda a sorte, fazendo inclusive com que as mulheres coreanas se tornassem escravas sexuais dos soldados japoneses. Nos anos 1950 veio a guerra que resultou na divisão da Coreia, com a Coreia do Norte comunista, hoje sob influência da China, e a Coreia do Sul, capitalista, aliada dos Estados Unidos. Manteve-se, no entanto, em toda península coreana o ódio aos japoneses. Os acontecimentos pós Segunda Guerra levaram o Japão a se tornar um importante aliado dos Estados Unidos, não só pelos enfrentamentos com a Coreia do Norte, que se tornou uma potência nuclear, mas também com a China. Esta, também potência nuclear, se tornou um ator importante no cenário internacional e um dominador das áreas em seu entorno. Assim é que Coreia do Norte e China passaram a ser uma ameaça, não só para o Japão, mas também para a Coreia do Sul. Fato que fez os dirigentes sul-coreanos se tornarem mais pragmáticos, procurando esquecer o período em que foram massacrados pelos japoneses, aceitando uma aliança com eles devido à nova situação criada na região. Afinal, seguidamente os mísseis norte-coreanos, que podem levar ogivas nucleares, passam por sobre os territórios de ambos os países, caindo no mar.

Nesta sexta-feira, o presidente norte-americano, Joe Biden, recepcionou o presidente sul-coreano, Yoon Suk Yeol, e o primeiro-ministro japonês, Fumio Kishida. O objetivo, logicamente, sedimentar uma aliança contra os inimigos da Ásia. Não é sem razão que os EUA têm naquela região dez bases militares e 80 mil soldados. Todavia, embora a vontade dos dirigentes sul-coreanos, ainda há muito resistência com relação ao Japão. O DPK, Partido Democrático da Coreia, de oposição, chamou a política externa de Yoon de a maior humilhação diplomática da história do país. Esses oposicionistas, no entanto, deixam de considerar fatos históricos, como os dois pedidos de perdão aos coreanos já formulados pelos japoneses. O primeiro remonta a 13 de janeiro de 1993, quando o Japão pediu oficialmente perdão pelo uso de mulheres coreanas como escravas sexuais. Depois, em 10 de agosto de 2010, governantes japoneses manifestaram tristeza com os sofrimentos e as atrocidades infligidas na Ásia pelo regime militarista nipônico.

A realidade de hoje obriga o esquecimento das divergências históricas, especialmente, pela expansão das forças oponentes. E ainda mais pela imprevisão sobre o que pode fazer um líder como o norte-coreano Kim Jong-un, que vem lidando com a bomba atômica. Assim como o governo de Pequim que, não só ameaça atacar outro aliado do Ocidente na região, que é Taiwan, como também vai tomando conta do mar da Indochina. Aliás, nessa área a China vem tomando conta das ilhas existentes e construindo ilhas artificiais que se tornam bases militares. Com isto avança sobre águas territoriais de vizinhos como Vietname, Indonésia, Filipinas e outros. E as ameaças chegam até a Austrália. Não sem razão, Washington estabeleceu outro acordo regional, o Diálogo de Segurança Quadrilateral, também conhecido como Quad (em inglês: Quadrilateral Security Dialogue), um fórum estratégico informal entre Estados Unidos, Japão, Austrália e Índia que é mantido por meio de cúpulas semir-regulares, trocas de informações e exercícios militares entre os países membros.

Assim é que, apesar das divergências históricas, é importante para a Coreia do Sul a aliança que Biden oferece. Leif-Eric Easley, pesquisador do Instituto de Estudos Asan, com sede em Seul, disse que "A aposta de Yoon em Tóquio é desvincular a cooperação prática das questões históricas e da política doméstica, para fortalecer a posição da Coreia do Sul na Ásia e reforçar sua aliança com os EUA”. Já a Coreia do Norte pensa diferente. Segundo o jornal chinês Global Times, vinculado ao Partido Comunista, o ministro da Defesa da Coreia do Norte, Kang Sun-man, disse que os EUA estão deixando o nordeste da Ásia à beira de uma guerra nuclear. O mesmo jornal diz em editorial duvidar que as autoridades sul-coreanas “entendam o que as águas turvas em que estão se metendo significam para o país”. Enfim, é sabendo das ameaças de Pequim e de Pyongyang que EUA, Japão e Coreia do Sul estão se unindo e se fortalecendo. Mas, inquestionavelmente, são fatores que elevam a tensão na Ásia.

 


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