Anemia atinge economia chinesa

Anemia atinge economia chinesa

Mas o problema do setor imobiliário não para por aí.

Jurandir Soares

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O mundo todo está sendo sacudido pela acentuada desaceleração da economia chinesa. Afinal, o país que por mais de uma década cresceu em média 10%, alavancando as economias de muitos países – o Brasil inclusive –, não deve ter um crescimento de seu PIB superior a 5% neste ano. Aliás, a projeção é mais baixa que isto. O crescimento econômico da China reduziu-se a 0,8% nos últimos três meses concluídos em junho, comparado a 2,2% no trimestre de janeiro a março. Este ritmo lento, que corresponde a uma taxa anual de 3,2%, é um dos mais baixos em décadas. Assim, enquanto a maior parte dos países está preocupada com a inflação, a da China está em baixa pela falta de consumo. E por que isto está acontecendo? Artigo de Meaghan Tobin, publicado no Washington Post, ajuda a esclarecer. O desemprego cresceu tanto que o governo deixou de divulgar a respectiva taxa. A crise atingiu, por extensão, o setor da construção civil, sabidamente um grande gerador de empregos e uma atividade que representa cerca de 25% da economia do país. A magnitude da crise no setor foi evidenciada na última sexta-feira, 18, quando o outrora todo poderoso grupo Evergrande apresentou sua convocação aos credores em Nova Iorque. O grupo foi um dos maiores impulsionadores do setor imobiliário na China até o seu colapso em 2021, devido à pandemia e à má administração.

Mas o problema do setor imobiliário não para por aí. Outro grande grupo imobiliário privado, o Country Garden, revelou que tem uma dívida de 200 bilhões de dólares e que está à beira de cessar os pagamentos. E uma dezena de outras empresas menores do setor estaria na mesma situação de inadimplência. Em função disto o governo chinês está sendo instado, dentro e fora do país, para que tome alguma medida para salvar o setor. Na realidade, já reagiu, baixou a taxa de juros e facilitou os financiamentos. O Banco Popular da China, PBOC, o banco central chinês, fez na terça-feira (15) o maior corte na taxa básica de juros do país desde o auge da pandemia de Covid. Os juros para os empréstimos de um ano, referência no mercado local, foram cortados em 0,15 ponto percentual, para 2,5% ao ano, numa decisão que surpreendeu os analistas. Ainda assim, os riscos de uma desaceleração econômica na China foram ampliados. O problema é a repentina perda de poder aquisitivo da população. Porém, houve outro fator a abalar o setor imobiliário: a ganância das construtoras. Segundo Lagan Wright, diretor de pesquisa de mercado da China para o Rhodium Group, revelou para o Washington Post, que as incorporadoras passaram a exigir o pagamento completo das casas novas antes de construí-las. Enquanto isto, em pequenas cidades do interior, vilas inteiras ficavam com casas novas vazias, sem comprador.

Acrescente-se à crise o fato de algumas províncias e mesmo cidades estarem à beira do default, depois de três anos de aumento de gastos e redução de receitas em decorrência da pandemia. Dados de julho, divulgados no início de agosto pelo governo chinês, mostraram que as exportações da China caíram por três meses consecutivos. Já as importações caíram por cinco meses consecutivos. São dois indicadores de perspectivas de enfraquecimento da economia. Em seguida, chegaram as notícias de que os preços locais, para uma série de produtos, de alimentos a imóveis, caíram. Isto levou os economistas a considerarem que a China poderia estar à beira da chamada deflação. O que é um prenúncio de atividade econômica ainda mais anêmica.

Segundo a publicação Inteligência Financeira, o enfraquecimento da economia chinesa sinaliza um encolhimento da demanda por produtos importantes. Vai do menor interesse pela soja colhida em solo nacional às proteínas exportadas pelo Brasil. Significa menos apetite por petróleo, minerais metálicos e outros segmentos da indústria. Isso certamente afeta o investidor brasileiro. Sobretudo o investidor de bolsa. Embora os analistas vejam maior prejuízo nas ações de commodities metálicas e menor impacto no agronegócio e na indústria de alimentos. Mas, enfim, o gigante da economia mundial está cambaleante. E o mundo balança junto.


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