Brasil e os semicondutores

Brasil e os semicondutores

O maior produtor de semicondutores no mundo hoje é Taiwan

Jurandir Soares

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O maior produtor de semicondutores no mundo hoje é Taiwan. E a maior parte deste mundo depende desses componentes para desenvolver os mais diferentes setores de suas indústrias. Especialmente as da área de TI. Os semicondutores são minúsculos processadores no centro da tecnologia de celulares, carros autônomos, computação avançada, drones e equipamentos militares. E o mundo todo sabe do interesse da China de abocanhar aquela ilha, que considera uma província rebelde. Ainda nesta segunda-feira o ministro da Defesa de Taiwan, Chiu Kuo-cheng, alertou para a entrada repentina de militares chineses em território taiwanês. Ao mesmo tempo, a China reitera a reunificação pacífica, mas eleva gastos militares. O fato é que, mais cedo ou mais tarde, Taiwan deixará de ser um território livre, sendo abocanhado por Pequim.

Sabendo desta possibilidade cada vez mais concreta, os Estados Unidos passaram a tratar de incentivar a produção de semicondutores dentro de seu território ou em parceria com aliados da região. A primeira iniciativa nesse sentido partiu do presidente Joe Biden, em agosto de 2022, quando conseguiu aprovar no Congresso um pacote de US$ 52 bilhões para estimular a indústria, reduzir a dependência de países asiáticos e manter o país à frente da China na guerra tecnológica. Só para se ter ideia do investimento, em termos ajustados à inflação, o pacote excede o financiamento do Projeto Apollo que levou o homem à Lua na década de 1960. Os recursos, que também vão para a pesquisa de computação quântica e inteligência artificial, são uma resposta à escassez global de microchips, uma realidade consolidada durante a pandemia, quando subiu a demanda e faltaram fabricantes dos componentes essenciais a veículos e eletrônicos. Esse dinheiro deve levar grandes fábricas de microchips para o território norte-americano, como as estrangeiras TSMC (Companhia de Manufatura de Semicondutores de Taiwan, na sigla em inglês), que representa mais da metade do mercado global, e GlobalFoundries, por exemplo. Outras empresas nacionais, como a Intel e Micron, também devem se beneficiar nos próximos anos. 

O aceno norte-americano para parcerias destacou logo o Brasil. E começou quando da visita do presidente Lula a Washington, ocasião em que a secretária do Comércio, Gina Raimondo, levantou esta possibilidade. Outro contato foi mantido posteriormente com o vice-presidente Geraldo Alckmin. E nesta quarta-feira, 8, a Representante de Comércio dos EUA, Katherine Tai, vem ao Brasil com uma delegação de empresários que querem investir no país, inclusive na área de semicondutores. Em princípio, parece um negócio muito bom para o Brasil. Porém, por trás dessa iniciativa está a disputa que EUA mantém com a China. E, em função disto, há restrições para participar do projeto. Um eventual investimento dos EUA na cadeia de semicondutores no Brasil viria com várias restrições para exportação ou negócios com a China. Segundo a Lei dos Chips, as empresas que receberem fundos americanos não poderão, no prazo de 10 anos, participar de nenhum negócio envolvendo fabricação ou aumento de capacidade de produção de certos semicondutores com a China, excluídos os negócios já existentes, que não poderão ser ampliados. Ou seja, logo o Brasil terá que decidir entre ser um produtor de semicondutores e fornecedor do mercado americano, correndo o risco de prejudicar suas relações comerciais com a China. Ou ficar fora dessa oportunidade de avançar na produção de um componente que hoje é o carro-chefe do avanço tecnológico.


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