Brasil em baixa

Brasil em baixa

Imagem do país no mundo não poderia ter ficado pior

Jurandir Soares

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O presidente Lula da Silva, ainda quando candidato, dizia que queria vencer a eleição para recolocar o Brasil no cenário internacional. Na realidade nosso país nunca saiu desse cenário. Apenas havia mudado um pouco o rumo nas suas relações, como, por exemplo, com Israel. Desviou-se em muito das alianças com governos de esquerda da América Latina. Com os Estados Unidos, apesar do ex-presidente Jair Bolsonaro ser um fiel seguidor de Donald Trump, as relações se mantiveram saudáveis. No entanto, os episódios deste final de semana em Brasília, com as invasões dos prédios dos três poderes, Executivo, Legislativo e Judiciário, fizeram com que o nosso país baixasse no contexto internacional. Até mesmo os extremos se uniram para criticar o que houve no Brasil, como foram os casos do presidente norte-americano Joe Biden e do seu colega russo Vladimir Putin. Os dois, que estão em posições completamente antagônicas na guerra da Ucrânia, fizeram o mesmo tipo de contestação ao aqui ocorrido.

Manchou-se a democracia brasileira porque o movimento de revolta da população, contra todos os desmandos que vêm ocorrendo nos últimos anos no país, acabou, insuflado sabe-se lá por quem, escorregando para o vandalismo. Perdeu sua razão e o coro foi enorme de dirigentes internacionais condenando o aqui ocorrido. O assunto foi capa dos jornais e destaque dos noticiários de rádio e TV pelo mundo todo. O secretário geral da ONU, Antônio Guterres, disse que “a vontade do povo brasileiro deveria ser respeitada”. Numa referência, evidentemente, ao resultado das urnas. O que é verdade.

Todavia, não se pode esquecer que o resultado do pleito se deu por uma margem muito apertada. E este contingente que perdeu vem há muito tempo manifestando “sua vontade” contra decisões de nossa Suprema Corte, com as que anularam a roubalheira do “mensalão”, cujos ladrões confessos chegaram a devolver o dinheiro da propina. E o principal responsável pelo ocorrido acabou tendo sua pena anulada numa manobra jurídica. Outra vontade desse contingente, o voto impresso e auditável junto com o eletrônico, não foi atendida. Isto só para citar alguns aspectos da indignação. Só que essa indignação poderia continuar a ser demonstrada, mas, de maneira ordeira, como requer um processo democrático. Até porque a pressão maior deveria e deve ser exercida contra o Congresso, que tem o poder de fiscalização e de mudar o que está ocorrendo. E este nem assumiu ainda para a nova legislatura. Ou seja, o processo foi atropelado e quem tinha bons motivos para seguir protestando acabou perdendo a razão. O resultado em termos de imagem do Brasil no exterior não poderia ser pior: violou-se a democracia.


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