Brasil segue negociando com a Rússia

Brasil segue negociando com a Rússia

O comércio entre os dois países e a dependência brasileira de alguns produtos russos não é novidade.

Jurandir Soares

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As sanções impostas por Estados Unidos e seus parceiros da Europa e as crescentes queixas da Rússia sobre os entraves para exportar seus produtos davam a ideia de que o comércio daquele país com o Ocidente estava travado. No entanto, mesmo em meio às dificuldades, o regime de Vladimir Putin tem aqui no continente americano um importante parceiro comercial: o Brasil. Pelo menos isto é o que está revelando a Bloomberg. Segundo a agência, tem acontecido uma aproximação entre os dois países no comércio de derivados de petróleo, com o Brasil comprando não só mais fertilizantes, mas também gasolina e diesel, com desconto. Com isto, o Brasil, que até então comprava diesel dos EUA, se tornou o segundo maior cliente russo. Esta comercialização está se dando porque o Brasil, assim como a China, a Índia e outras nações, não aderiu às sanções econômicos impostas a Moscou. A Rússia, inclusive, teria pedido ao Brasil para reativar a Comissão de Alto Nível Russo-Brasileira de Cooperação, voltada a comércio. Isto teria ocorrido no dia seguinte ao encontro do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com o presidente ucraniano, Volodmir Zelensky, noticiou a Bloomberg no dia 22. Segundo a agência de notícias americana, os chanceleres de ambos os países, Serguei Lavrov e Mauro Vieira, se reuniram na Assembleia Geral da ONU, em Nova Iorque, para articular a reativação do fórum, que se reuniu pela última vez em 2015.

O comércio entre os dois países e a dependência brasileira de alguns produtos russos não é novidade. Pouco antes de se iniciar a guerra na Ucrânia, o então presidente brasileiro Jair Bolsonaro esteve em Moscou e negociou com Putin o fornecimento, entre outras coisas, de fosfato. A Rússia é o principal fornecedor de fertilizantes para o Brasil, insumo essencial para o agronegócio, que tem crescido cada vez mais. 

Mas já que entramos no embalo do comércio com a Rússia levantado pela Bloomberg, aproveito para citar dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, revelando que, apesar do conflito e dos embargos impostos pelos Estados Unidos e pela União Europeia à Rússia, em 2022, o comércio entre o Brasil e a Rússia bateu um recorde histórico. Ano passado, a corrente de comércio bilateral (exportação+importação) atingiu o maior valor da série histórica, com a marca de US$ 9,812 bilhões (alta de 34,7% em relação ao ano anterior). No período, as exportações brasileiras cresceram 24,7% e totalizaram US$ 1,959 bilhão. Em contrapartida, as vendas russas tiveram uma alta de 37,8% para US$ 7,853 bilhões. Com isso, o Brasil teve com a Rússia um déficit de US$ 5,894 bilhões, o segundo maior de todo o comércio exterior brasileiro, atrás apenas do saldo negativo de US$ 13,867 bilhões registrado nas trocas com os Estados Unidos. No primeiro trimestre de 2023, ainda que os números não devam, necessariamente, ser projetados para todo o ano em curso, o que se viu foi uma queda expressiva (-32,8%) nas exportações brasileiras, de apenas US$ 426 milhões, enquanto as importações de produtos russos somaram US$ 1,783 bilhão (alta de +12,8%). Com queda de 0,12%, a corrente de comércio chegou a US$ 2,209 bilhões e o superávit em favor dos russos foi da ordem de US$ 1,357 bilhão. Assim é que, mesmo com redução, o comércio entre os dois países segue e tendo a se incrementar de novo.

Voltando para a Bloomberg, outro aspecto destacado pela agência é a pujança agrícola do Brasil, ressaltando que “após soja e milho, o Brasil deve passar os EUA em algodão. No caso do algodão, a agência diz que, com a “safra robusta” no Brasil, e o Texas, “maior produtor americano”, enfrentando seca e alta temperatura, a expectativa é que o país passe os EUA em vendas no período que começa em 2023-24. Já a Rússia teria passado os norte-americanos na produção de trigo. E a propósito, o grande comprador dos produtos agrícolas russos, assim como de seu petróleo e de seu gás, é a China.

Mas já que estamos falando em destaques feitos lá fora para o agronegócio brasileiro, a revista The Economist mandou um repórter ao Mato Grosso para verificar a produção brasileira. E a constatação dele é de que agora “o interior do Brasil se igualou ao Texas”. E ressaltando que ali não predomina aquele estereótipo brasileiro de praia, samba e caipirinha, mas o sertanejo – com o equivalente à música country americana – e a cerveja. A publicação faz, no entanto, uma advertência, de que com as mudanças climáticas o desmatamento do Cerrado pode implicar diminuição de chuva na região, com as correspondentes consequências para a agricultura.


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