China em baixa. Bom ou ruim?

China em baixa. Bom ou ruim?

Jurandir Soares

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A China está em baixa e a pergunta que se impõe é: isto é uma preocupação para o mundo ou um alívio? Pois, estes dois aspectos estão presentes na questão. A informação do Escritório Nacional de Estatísticas da China é de que o Produto Interno Bruto do país cresceu 3% em 2022. O número ficou abaixo da meta oficial de 5,5%. E longe da média de 10% ao ano no período pré-pandemia. O ritmo lento foi impactado pelas fortes restrições da política de Covid zero. Ao mesmo tempo também se tem a informação de uma redução na população do país, pela primeira vez em mais de 60 anos. O mesmo ENE informa que a população no país era de 1.411.750.000 no fim de 2022. Diminuição de 850 mil habitantes em relação ao mesmo período do ano anterior. Vale lembrar que a China teve grande redução populacional à época do comunismo pleno, comandado por Mao Tsé-tung, o qual mandou a população à força para o campo, provocando a morte de cerca de 40 milhões de chineses. Ironicamente, essa política agrícola implantada nos anos 1960 se chamou de “O Grande Salto para a Frente”. O país deve entrar em uma fase de envelhecimento populacional grave a partir de 2035, quando espera-se que pessoas com mais de 60 anos correspondam a mais de 30% da população nacional, de acordo com o Global Times.

A China mudou e começou a crescer nos anos 1970, após a morte de Mao, quando assumiu o poder Deng Xiao-ping. O qual pronunciou a famosa frase “não importa a cor do gato, desde que ele cace o rato”, ao introduzir um sistema híbrido no país, em que a política continuava fechada, atrelada ao Partido Comunista, mas a economia se abria para o mercado. Aí sim o país deu o grande salto para a frente, produzindo em massa, mas, com um trabalho semi escravo. Vieram aquelas quinquilharias que inundaram as lojas de 1,99. Com o tempo e com base numa qualificação e numa espionagem industrial foram aprimorando seus produtos, a ponto de hoje produzirem desde automóveis elétricos até o sistema de telefonia 5G, do qual são os top de linha no mundo.

Aí vem a questão da preocupação mundial a que me referi. O país passou a ser um dos maiores compradores de tudo que se possa pensar. Sua população de 1,4 bilhão passou a registrar 300 milhões de ricos, pessoas com alto poder aquisitivo. Tive oportunidade de ir à China por ocasião da Expo-Xangai 2010 e constatar que em uma avenida daquela cidade se localizam lojas das grandes grifes internacionais, maiores que as congêneres de Londres, Paris ou Roma. Cidadãos chineses se tornaram empresários globais e empresários das mais diversas partes do mundo passaram a administrar negócios na China. O país se tornou o maior comprador dos produtos brasileiros, especialmente minérios, carnes e soja. A administração Lula em seu primeiro mandato surfou nessa onda. Perder este mercado pode ser desastroso, não só para o Brasil, mas também para outros países.

O alívio para os países preocupados com o gigantismo chinês se dá pelo fato de que Pequim terá que diminuir o ímpeto de seu programa “Road and Belt Iniciative”, que é chamado de a Nova Roda da Seda. Uma agressiva iniciativa chinesa, através da qual passou a derramar dinheiro em países da Ásia, Europa e África, financiando a construção de rodovias, ferrovias, portos e aeroportos. Uma iniciativa que, de forma ainda muito branda, está chegando à América Latina, pela Argentina e pela Venezuela. O sistema consiste em fornecer a infraestrutura aos países para que possam ampliar e privilegiar sua comercialização com a China. Vendendo e comprando. Até aí parece tratar-se de mera relação comercial. No entanto, o objetivo chinês é fazer com que esses portos, aeroportos etc. sirvam de apoio logístico para suas tropas em caso de mobilização militar para uma guerra. E outro detalhe, se o país não paga o financiamento recebido, eles tomam conta do que foi financiado, como aconteceu até com um dos países ricos da Europa, a Itália, que teve que entregar para os chineses o controle do porto de Trieste, por não terem conseguido pagar. Então, todo o cuidado é pouco com essa parceria.


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