China, o ator do momento

China, o ator do momento

Jurandir Soares

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Está difícil hoje um acontecimento importante nas relações internacionais que não envolva a China. Isto, evidentemente, decorrência do protagonismo que o país liderado por Xi Jinping passou a ter no cenário internacional. Muito especialmente depois que se consolidou como a segunda economia do mundo e passou a estender sua área de influência com o seu programa “Road and Belt Iniciative”, que é chamado de a Nova Rota da Seda. Uma agressiva iniciativa chinesa, através da qual passou a derramar dinheiro em países da Ásia, Europa e África, financiando a construção de rodovias, ferrovias, portos e aeroportos. Tudo para estender seus negócios e sua dominação.

A reação à expansão chinesa por parte da potência oposta, Estados Unidos, veio ainda ao tempo do governo Trump, com o lançamento da Guerra Fria 2.0, que implicou a implantação de tarifas sobre os produtos chineses. O troco por parte de Pequim foi impor também tarifas aos produtos norte-americanos. O rápido avanço tecnológico por parte das empresas chinesas permitiu a Huawey se tornar top de linha na tecnologia 5G, desencadeando uma campanha por parte dos EUA para que seus aliados não aderissem ao sistema fornecido pela chinesa. Nesta quinta-feira, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, acusou a China de querer mudar a ordem mundial para impor seu domínio e para “manejar suas ferramentas de coerção econômica e comercial”. Disse que o presidente chinês quer uma mudança da ordem internacional, com a China no centro do sistema.

Em meio às críticas, Xi Jinping segue se movimentando no cenário internacional, tendo se proposto, inclusive, a mediar o conflito entre Rússia e Ucrânia. Elaborou um plano de paz que levou até Moscou e apresentou ao presidente Vladimir Putin. Não houve nenhuma manifestação oficial sobre o assunto, mas transpareceu que Putin não aceitou a proposta de Xi. Porém, transparece que a proposta agrada ao presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, tanto que este convidou Xi a ir a Kiev para discutir o assunto. A proposta de Xi não agrada Putin, mas é do agrado de Zelensky, porque estabelece, em troca do levantamento das sanções à Rússia e da garantia de segurança do país, a retirada das tropas russas do todas as áreas que ocupa na Ucrânia, inclusive a Crimeia. Os EUA e membros da Otan não ligaram muito para proposta de Xi porque querem continuar com uma guerra de desgaste contra a Rússia. Tanto que esta semana fizeram chegar à Ucrânia tanques fornecidos por EUA, Reino Unido e Alemanha. Porém, dentro do intrincado jogo político dessa guerra e na medida em que o Ocidente despreza a China, há o risco de Pequim aliar-se a Moscou, com o fornecimento de armas. O que significa uma perigosa ampliação do conflito.

Mas, enquanto a presidente da Comissão Europeia fazia críticas a Pequim, o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sanchez, ia até a China, para encontrar-se com Xi, procurando romper as barreiras de negócios. Fez um discurso contra o protecionismo chinês, pedindo que se abram às inversões europeias. Sob pena de a Europa ter que dar o troco. A tensão entre Europa e China não é tão grande quanto EUA e China, mas é crescente. Xi tem dito que quer distensionamento nas relações e que quer seguir como mediador para a guerra da Ucrânia. E para esses dois assuntos tem convidado líderes europeus para irem a Pequim dialogar. Sanchez deu a largada e logo será sucedido pelo francês Emmanuel Macron, pelo responsável pela política externa europeia Josep Borrell e pela própria presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen. O premiê espanhol se mostrou otimista com seus contatos, destacando que Europa e China representam uma quarta parte da população mundial e, como principais mercados e entidades geopolíticas, devem competir em algumas áreas, mas cooperar em outras. Veja-se que EUA ficam de fora dessa movimentação. E voltando à questão da guerra na Ucrânia, Xi deixa transparecer que quer levar adiante seu projeto de mediação. E para isto conta com a vontade da Europa de acabar com aquele conflito, que está lhe custando muito caro, tanto em termos de fornecimento de equipamentos para a Ucrânia quanto de inflação em seus respectivos países, decorrência da própria guerra. E para Xi, a obtenção de sucesso numa mediação representará a sua consagração com poderoso líder mundial, com o evidente recebimento do Prêmio Nobel da Paz.

 


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