Contraofensiva estancou

Contraofensiva estancou

Neste caso é preciso levar em conta outro componente.

Jurandir Soares

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Em meio à anunciada contraofensiva ucraniana na guerra que trava contra a Rússia, vários episódios ocorreram nos últimos dias, ilustrando o quão difícil está esta operação. Uma operação que poderia ter sido facilitada se o líder do grupo mercenário Wagner, Yevgueni Prigozhin, tivesse levado adiante sua mobilização rumo a Moscou. Não se sabe se no caminho foi convencido a recuar pelo ditador da Belarus, Alekssander Lukashenko, ou se deu-se conta da impossibilidade de êxito em sua missão. Prigozhin diz que resolveu recuar para evitar um banho de sangue. Lukashenko assegura que o convenceu a desistir, depois de ter-lhe oferecido asilo em seu país e a garantia de não punição por parte de Putin.

O que ocorre é que, contrariando seu histórico e comprovando quão abalado ficou com o episódio, Putin anunciou anistia para Prigozhin. Neste caso é preciso levar em conta outro componente. Putin pagava por ano ao grupo de mercenário um bilhão de dólares. E pagava ao próprio Prigozhin 963 milhões de dólares pelo fornecimento de comida para as forças armadas russas, por parte de uma empresa do líder mercenário. Negócio criado com o favorecimento de Putin. E aí vem uma informação, já ventilada tempos atrás, e que pode justificar a atitude do presidente russo. A de que parte desse dinheiro ia parar na conta pessoal de Putin, que hoje estaria milionário. Verdade ou não, o certo é que Lukashenko já disse que quer aproveitar a presença de Prigozhin para que este ofereça treinamento para as tropas da Belarus, tendo em vista que o grupo Wagner foi quem obteve os melhores resultados para a Rússia dentro da Ucrânia. Diante deste fato, Letônia e Lituânia, que fazem fronteira com a Belarus e que já foram dominadas por Moscou ao tempo da União Soviética, pediram à Otan que fortaleça sua fronteira. Aliás, a primeira coisa que esses dois países e mais a Estônia fizeram quando ruiu a URSS foi passar para a Otan, para terem proteção.

A propósito, o grupo Wagner deixa de combater na guerra, o que poderia ser um alívio para os ucranianos. Especialmente, na contraofensiva que desencadearam. No entanto, esta não está alcançando os resultados esperados. E isto se deve a uma série de fatores. Um deles, a Rússia segue lançando mísseis sobre cidades ucranianas. Ontem, por exemplo, um ataque na cidade de Kramatorsk, no Leste do país, deixou ao menos dez civis mortos, entre eles três crianças, quando jantavam em uma pizzaria. Várias outras pessoas resultaram feridas com gravidade, como é o caso da romancista Victoria Amelino, de 37 anos, cujas obras foram traduzidas para vários idiomas. Ao mesmo tempo, a Rússia está fazendo bom uso de uma tática que já havia sido anunciada: o uso de helicópteros de ataque KA 52 para bombardear as tropas ucranianas. Porém, o maior entrave para o avanço ucraniano tem sido as minas terrestres. Putin tem se ufanado de abater os tanques Leopard 2, alemães, e Bradley, estadunidenses, que a Ucrânia recebeu.

Segundo fontes militares norte-americanas, citadas pelo Washington Post, os russos cavaram trincheiras e espalharam minas por toda a área por onde os blindados ucranianos devem passar. E as explosões dessas minas danificam os tanques, a ponto de inviabilizar o seu uso. Este fato teria feito os comandos ucranianos reavaliarem suas ações. Dos 113 tanques Bradley recebidos pela Ucrânia, 17 deles já teriam sido danificados. E o avanço em território dominado pelo inimigo mal superou os 6 quilômetros. A grande tarefa que se apresenta é ir desativando as minas terrestres, para poder avançar e preservar os tanques. O que, evidentemente, retarda a contraofensiva. E as cidades ucranianas seguem sendo alvo dos mísseis russos.


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