Crise chega à Alemanha

Crise chega à Alemanha

Jurandir Soares

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A maior economia da Europa está patinando. A Alemanha, que sempre se destacou por sua estabilidade econômica e que há muito é a locomotiva da Europa, está vivendo momentos conturbados. É a quarta potência econômica mundial depois dos Estados Unidos, China e Japão e uma economia de mercado na qual a seguridade social tem um peso muito grande, tendo os alemães direitos sociais muito extensos. Nesta segunda-feira o país viu uma série de serviços serem paralisados por conta de uma greve geral. Resultado da perda de poder aquisitivo de uma população que não sabe o que é conviver com uma inflação que em fevereiro bateu em 9,3%. Uma decorrência da pandemia e da guerra, dois fatores que afetaram quase todo o mundo. A Alemanha, no entanto, é um dos países que mais está sentindo os efeitos.

Em 2020, no auge da pandemia, o PIB alemão despencou, fechando o ano em -4,6%, contra um crescimento de 2,9% no ano anterior. O ano de 2022 fechou com um parco crescimento de 1,2%. Além dos problemas das baixas na produção e do poder aquisitivo em decorrência da pandemia, os efeitos da guerra na Ucrânia atingiram em cheio o país. Como um dos principais membros da Aliança Atlântica, a Alemanha teve que ir para a linha de frente no fornecimento de ajuda financeira e de armamentos à Ucrânia. Mas foi o país que pagou o preço mais alto por essa ajuda, pois acabou ficando sem o gás proveniente da Rússia, responsável pelo abastecimento de quase 50% de suas necessidades energéticas. Nesse contexto, viu ser inviabilizado um de seus principais investimentos dos últimos tempos, o gasoduto North Stream II, que através de 1.230 quilômetros, pelo Adriático, liga diretamente os territórios da Rússia e da Alemanha. Um investimento de 9,5 bilhões de euros no gasoduto mais longo do mundo, que não chegou a entrar em operação, por causa das divergências entre Berlim e Moscou. Este talvez um dos maiores erros estratégicos da ex-primeira-ministra Angela Merkel, que, apesar das advertências do então presidente norte-americano Donald Trump, confiou no russo Vladimir Putin para fazer esse acordo. Em decorrência do qual a Alemanha desativou usinas nucleares e a carvão, que agora teve que recolocar em operação.

Outra herança deixada por Merkel foi a abertura dos portões da Alemanha aos imigrantes. Somente no ano de 2015 cerca de um milhão de imigrantes entraram no país, fugindo da fome e das guerras na África e no Oriente Médio. Algo semelhante ao que aconteceu com a França, cujo resultado foi o aumento da violência e desemprego. Mesmo tendo a indústria mais forte dentre os países do G-7, a Alemanha sentiu o abalo de sua economia. E é justamente pela perda do poder aquisitivo que os trabalhadores paralisaram suas atividades, em um contexto de inflação superior a 9% e a oferta de um reajuste salarial de 5%. E para um país que tem na indústria o forte de sua economia, cada dia parado significa um baque monetário. Só a paralisação desta segunda-feira representou uma perda de 181 milhões de euros. Ou seja, é preciso urgentemente um acordo para minimizar os prejuízos e buscar uma retomada do crescimento. Uma retomada que passa por um grande desafio que é a busca de energia limpa, pois a recuperação das usinas a carvão e nuclear está na contramão da busca de um mundo sustentável. Mas passa também por um estancamento no duto das despesas com a guerra na Ucrânia. Isto, porém, não depende só da Alemanha, mas de um acordo que ponha fim ao conflito.

 


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