Da Ucrânia à Palestina

Da Ucrânia à Palestina

As duas guerras que mais chamam a atenção da mídia, Rússia contra Ucrânia e Israel contra Hamas, seguem polarizando as atenções.

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Falo destas duas porque estão ocorrendo várias outras guerras pelo mundo que, embora tão cruéis como estas duas, não despertam a atenção. Como a guerra civil do Sudão, por exemplo, que já provocou o maior deslocamento populacional do mundo: 11 milhões de pessoas tiveram que deixar suas casas.

Mas vamos às duas de destaque, começando pela confrontação entre Rússia e Ucrânia que neste sábado (24) completa dois anos de duração. E que depois de sete meses de estagnação, apresentou nos últimos dias um pequeno avanço da Rússia. A Ucrânia havia dado início a uma contraofensiva em junho passado, porém suas forças não saíram do lugar. E ponto marcante foram os combates que se deram ao longo de todo este tempo em torno da cidade de Avdiivka, a qual, finalmente, foi tomada na segunda-feira (19) pelas forças da Rússia. Com pouca munição, as forças ucranianas resolveram se retirar, com isso abrindo caminho para a Rússia avançar em busca de seu objetivo de tomar a província de Donbas, da qual já ocupa 55% do território. Assim, não é sem razão que o presidente Volodimir Zelensky está clamando aos parceiros do Ocidente pela remessa de mais armamentos. A Alemanha e a França se manifestaram no sentido de enviar ajuda imediata para evitar uma vitória de Putin. Mas a ajuda dos demais está difícil. O presidente Joe Biden enfrenta forte resistência dos republicanos no Parlamento para liberar recursos. Também está havendo dificuldade de recursos por parte dos demais parceiros europeus. Assim, decorridos dois anos dos combates, embora a sua heroica resistência, a situação para a Ucrânia não é nada animadora.

Como também não é animadora a situação na Faixa de Gaza, onde, apesar de todos os esforços internacionais, está difícil de se ver um término para essa guerra. No entanto, o que parece avançar é o consenso de que a solução para o conflito entre israelenses e palestinos passa pela criação do Estado da Palestina. A solução de dois Estados, Israel e Palestina convivendo lado a lado com fronteiras definidas. Já abordei em outras ocasiões a perspectiva que seria ideal, embora se saiba que o ideal é quase uma utopia. Mas esta perspectiva passa pelos chamados Acordos de Abrahão que foram alinhavados pelo então presidente Donald Trump e que já resultaram em acordos de paz de Israel com países árabes como Emirados Árabes Unidos, Bahrein, Marrocos e Sudão. A Arábia Saudita estava na fila, mas parou diante dos acontecimentos de Gaza, condicionando para tal a solução do problema palestino. Uma solução que passaria pela união do conhecimento tecnológico de Israel com o poder de investimentos árabes, no sentido de transformar esse Estado da Palestina num novo Vale do Silício. Ressalto, algo quase utópico, mas exequível se houver vontade de todas as partes envolvidas.

Enquanto isto, o que avança são as intenções de apoio à criação do Estado palestino, já manifestadas pelo presidente Joe Biden assim como por seu secretário de Estado, Anthony Blinken. Este, inclusive, na reunião do G20 realizada nesta semana no Rio de Janeiro. Aliás, foi um consenso também nessa reunião a manifestação de apoio à causa palestina. O chefe da diplomacia da União Europeia, o espanhol Joseph Borrell, foi enfático: “há um denominador comum; não haverá paz, não haverá segurança sustentável para Israel a menos que os palestinos tenham uma perspectiva política clara de construir seu próprio Estado”. O ministro de Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, que presidiu os trabalhos, disse que “destacou-se virtual unanimidade ao apoio a solução de dois Estados como sendo a única solução possível para o conflito entre Israel e Palestina”.

Esta articulação brasileira junto ao G20 vem na extensão daquele movimento que salientei na coluna de quinta-feira (22) que é a estratégia traçada pelo presidente Lula, que objetiva liderar um movimento global em defesa da constituição do Estado da Palestina. Já destaquei que sua declaração comparando as ações de Israel em Gaza às perseguições de judeus por Hitler não foi um escorregão. Foi deliberada. Resolveu não seguir o caminho da diplomacia, mas da confrontação com Israel. Tanto que logo em seguida a representante brasileira na Corte Internacional de Haia pediu que aquele organismo declarasse ilegal a ocupação israelense de territórios palestinos. Na extensão veio a ação desta semana, daí diplomática, junto ao G20. Como disse naquele artigo, assim como Osvaldo Aranha se destacou como o brasileiro que ajudou a criar o Estado de Israel, Lula quer se destacar como o brasileiro que ajudou a criar o Estado da Palestina. Esta comparação que fiz foi motivo de contestação por parte de um leitor, que não cito o nome por não ter autorização, o qual a considerou desrespeitosa. Neste caso me cabe destacar que tem diferença. Osvaldo Aranha usou sua habilidade de diplomata junto à ONU, enquanto Lula usa como estratégia uma confrontação com Israel que ofende o povo judeu e envergonha boa parte do povo brasileiro.


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