De berço do império persa a produtor de bomba atômica

De berço do império persa a produtor de bomba atômica

“Isfahan, este lugar tão simbólico, ancorado na história do Irã, é agora o principal centro de pesquisa, produção e desenvolvimento de drones do país e o coração do programa nuclear.”

Jurandir Soares

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Os últimos dias têm sido marcados pelo acirramento das confrontações bélicas entre Israel e Irã, a ponto de o secretário geral da ONU, Antônio Guterres, dizer que o Oriente Médio está “em um momento de máximo perigo”. E não é para menos. No dia 1° de abril deu-se o ataque de Israel à embaixada iraniana em Damasco, com a morte de três generais da Guarda Nacional e quatro oficiais. Em seguida, o Irã atacou Israel com mísseis e drones, que em sua quase totalidade foram abatidos no ar, não tendo causado mortes. Diante do fato, Israel se preparou para um ataque, desta vez direto no território iraniano. As potências ocidentais saíram a campo para tentar evitar o revide israelense. No entanto, falou mais alto a ala mais radical do Gabinete de Guerra. O revide foi dado, mas, pelo que informam as agências de notícias, de maneira pontual, sem provocar mortes nem grandes estragos.

Isfahan

Segundo informação da TV estatal iraniana, drones foram abatidos ao serem lançados contra a cidade de Isfahan, que é onde se situa o grande centro de pesquisa nuclear do país. Um centro onde, segundo os iranianos, estão enriquecendo urânio para ser usado na geração de energia com fins medicinais. Já de acordo com israelenses, estão trabalhando intensamente para chegar à bomba atômica. E aí vem a curiosidade histórica pelo que representa Isfahan. Esta cidade, que é capital da província do mesmo nome, foi nos séculos XVI e XVII a capital do Império Safávida. A beleza do seu centro histórico encarna para muitos iranianos o esplendor perdido da antiga Pérsia. Este lugar tão simbólico, ancorado na história do Irã, é agora o principal centro de pesquisa, produção e desenvolvimento de drones do país e o coração do programa nuclear.

A província, cenário do ataque desta sexta-feira, 19, abriga não só a base aérea de Shekari, como também o principal complexo de mísseis do país, além da fábrica de drones Shahed-136 e uma empresa que produz armamentos antiaéreos para o Ministério da Defesa. Nela também estão o complexo de pesquisa nuclear mais importante do Irã – o Centro de Tecnologia Nuclear de Isfahan – e a usina de conversão de urânio de Zardenjan.

Parceiros

O Irã não está sozinho no desenvolvimento de todo esse aparato. Tem tido as parcerias da Rússia, China e Coreia do Norte. Muitos dos chamados “drones camicases” que a Rússia usa na guerra contra a Ucrânia são iranianos. Produzidos na empresa Shahed Aviation Industries, que se situa na base militar de Badr, também na província de Isfahan. O Centro de Tecnologia Nuclear da província de Isfahan, localizado perto da cidade de Natanz, é o maior complexo atômico do Irã e, seguramente, um dos lugares mais vigiados do país. Situado numa arenosa planície central, a 225 quilômetros de Teerã, tem nas valas que o rodeiam a parte mais visível de um férreo sistema de proteção, que inclui baterias antiaéreas da Guarda Revolucionária Iraniana. Foi construído em 1984 com a ajuda da China e foi mantido oculto da comunidade internacional por cerca de duas décadas, até que foi revelado publicamente em 2002. As instalações se estendem por quase três quilômetros em baixo da terra.

Acordo

O programa nuclear iraniano chegou a ser objeto de um acordo que envolveu as cinco potências com assento permanente no Conselho de Segurança da ONU – EUA, Rússia, China, Reino Unido e França – e mais a Alemanha. Isto porque Teerã dizia que o enriquecimento de urânio era para fins pacíficos. Porém, as dificuldades impostas aos inspetores da Agência Internacional de Energia Atômica para fazer a averiguação levaram o então presidente Donald Trump a romper o acordo. E esta é hoje a maior preocupação de Israel. País que, diga-se de passagem, também possuiu a bomba atômica, embora não admita publicamente. Uma preocupação também para as monarquias sunitas do Golfo Pérsico, tendo em vista que os iranianos são xiitas. Diante do presente ataque de Israel, fica a expectativa quanto à reação iraniana, tendo em vista que o presidente Ebrahim Raisi havia advertido Tel Aviv que Teerã entregaria “uma resposta severa” a qualquer ataque em seu território.


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