Debandada e anexação

Debandada e anexação

Putin anuncia anexação de regiões da Ucrânia e russos fogem da convocação

Jurandir Soares

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O presidente russo, Vladimir Putin, está jogando uma cartada perigosa ao declarar a anexação de quatro regiões da Ucrânia, correspondentes a 15% do território daquele país. Faz isto num momento em que se dá uma debandada generalizada em seu país, em função sua convocação de 300 mil reservistas para irem guerrear na Ucrânia. As filas de carros de mais de 16 quilômetros são registradas junto às fronteiras de países como Geórgia, Azerbaijão, Cazaquistão e Finlândia. Gente que não quer servir de bucha de canhão para as pretensões de Putin. Mas não são somente civis que estão se rebelando. Putin teve que fazer esta semana um expurgo no Exército, devido a contestações de altos comandos. Afinal, eles estão vendo que não foi somente um contingente significativo de soldados que morreu em combates. Segundo um estudo do Instituto de Estudos sobre Guerra, ISW, na sigla em inglês, mais de 350 oficiais de alta patente já morreram na guerra.

E uma notícia caiu como bomba nesta semana: o general Dimitri Bulgakov, responsável pela logística da guerra na Ucrânia, foi afastado do cargo. Decorrência do fracasso das ações que permitiram à Ucrânia retomar áreas que já estavam em poder dos russos. Ao mesmo tempo, Putin aumentava para dez anos de prisão a pena para o convocado que se recusar a ir para a guerra. E subiu para oito o número de magnatas que se opunham à guerra e que tiveram morte misteriosa. Um deles caiu do 17º andar enquanto visitava um prédio em construção, enquanto que outro caiu da janela do sexto andar do hospital, onde estava em tratamento. Tudo parte do método Putin de eliminar oponentes.

Juntando estes fatos com a lembrança do que Putin já fez na Ucrânia, atacando hospitais, maternidades e prédios residenciais e matando civis indiscriminadamente, é preciso ter cautela com o que ele pode fazer em caso de uma contraofensiva nas áreas que ele acaba de tomar. O secretário-geral da ONU, António Guterres, foi incisivo ao declarar que a anexação viola a carta da organização. Mas o russo não está ligando para isso. E segue dizendo que um ataque àquelas áreas corresponderá a um ataque ao território russo, o que lhe permitirá reagir com “todos os recursos disponíveis’. O que deixa implícita a possibilidade de uso de arma nuclear. Daí o perigo de que falei no início.

Resta dizer que a apoiar Putin estão aqueles mesmos países com regimes marginalizados que apoiaram a tomada da Crimeia, em 2014. Síria, Irã, Venezuela, Cuba, Nicarágua e Afeganistão. E Putin levou uma rasteira de seu mais badalado aliado de hoje: o chinês Xi Jinping. Ao falar diante do Conselho de Segurança da ONU, na terça-feira, o embaixador chinês foi enfático: “A China defende a integridade territorial de todos os países”. Não deixou de ser mais um que se somou à debandada daqueles que fogem da guerra.

 


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